Alunos de Cachoeira continuam sem transporte escolar e famílias cobram solução
Prefeitura alega divergências na planilha e no valor apresentado pela empresa, ABC Transportes; contratada nega falhas e cobram dívidas
Thales Siqueira
Cachoeira Paulista
Com o serviço de transporte escolar paralisado desde a último dia 1, alunos das escolas municipais e estaduais de Cachoeira Paulista continuam enfrentando dificuldades para frequentar as aulas. Ao todo, 797 alunos dependem do meio de transporte fornecido pela Prefeitura e Estado, mas a solução ainda parece distante.
A empresa ABC Transportes, responsável por levar os alunos às escolas (o serviço é realizado pela Utile, que faz parte do mesmo grupo empresarial), decidiu paralisar suas atividades por falta de pagamento. A Prefeitura alega que o pagamento não foi realizado devido às divergências na planilha apresentada pela empresa em relação às rotas e linhas operadas, além de discordância no valor da nota emitida. Apesar do preço acordado em R$ 400 mil, a nota emitida foi de R$ 600 mil.
Para tentar resolver os problemas gerados pela falta do transporte escolar, o prefeito Antônio Carlos Mineiro (MDB) participou de uma reunião com a secretaria da Educação, na última segunda-feira (4), em São Paulo.
“Encaminhamos todas as denúncias à Controladoria do Estado e à secretaria de Educação, que estão com um dossiê apurando as irregularidades apontadas”, revelou Mineiro. Ele lembrou que o contrato com a ABC foi realizado em 2019 no governo do ex-prefeito Edson Mota (PL). “Assumimos em 2021, quando então colocamos todos os contratos em suspeição, inclusive este. Estamos há tempos apurando irregularidades que a empresa se furta a esclarecer”.
Para o aprendizado das crianças não ficar comprometido, o chefe do Executivo afirmou já estar tomando as providências cabíveis. Algumas escolas estaduais devem dispensar os alunos em vista da proximidade com o fim do ano letivo.
“Estamos atendendo na medida do possível, priorizando os alunos com prova do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) com carros próprios nestes últimos dias letivos. E estamos licitando uma nova empresa”.
Com a paralisação do serviço, boa parte dos alunos deixaram de frequentar as escolas, como no caso do filho de 11 anos da Aldenice dos Santos. A família já utilizava o transporte escolar há 7 anos e só ficou sabendo da paralisação pela empresa ABC. “Só soubemos da paralisação do transporte porque fomos informados pela firma que eles estavam a três meses sem receber da Prefeitura”.
Aldenice, que mora no bairro da Bocaina, área rural da cidade, tem levado o seu filho para a escola EE Comendador Oliveira Gomes para que ele não perca as provas.
“Sem o transporte, nos dias de prova eu trago meu filho para que ele não perca as provas nem fique com muitas faltas devido a escola ser de período integral. Mas não tenho condições de trazê-lo todos os dias da semana”, lamentou a mãe.
Quem também sofre com a falta do serviço é a família de Carla Lima que mora no bairro da Aguada. A mãe contou que tem dois filhos, uma de 9 anos e um de 10, que dependem do transporte escolar fornecido pela Prefeitura para frequentarem a escola José de Godoy Roseira. “Hoje, eles não foram para a escola porque não tem transporte escolar. Com a paralisação eles não poderão ir à escola finalizar o ano letivo”.
Hosana Oliveira, que mora na Aguada e é mãe de duas crianças, uma de dez e uma de doze anos, também enfrenta dificuldades. Ela conta que o seu esposo está levando as crianças de carro, mas que tem dias que estão indo de circular. “Está difícil. As crianças estão indo somente em dias de prova, e hoje meu filho, ele sai às 14h da escola, mas meu esposo precisou pegar ele às 11h, porque não tem quem o busque. Eu não dirijo e meu esposo precisa do carro para trabalhar. A Prefeitura não deu nenhum suporte”.
A empresa ABC Transportes emitiu uma nota de esclarecimento, na última segunda-feira, afirmando que sempre que solicitada prestou todas as informações e que em setembro deste ano encaminhou diversos relatórios à Prefeitura.
Em nota, a empresa destacou que apenas neste ano a inadimplência é recorrente desde abril. “houveram inúmeras tratativas da nossa equipe financeira com a Prefeitura e em nenhum momento foi apontado que a falta de pagamento ocorreu por dúvida na execução do objeto ou ausência de manifestação da empresa, e sim, exclusivamente por ausência de recursos financeiros”.