Atos e Fatos
“A vida política deu a Lula uma chance rara, mas o futuro presidente não deve dar chance para o azar”
Murilo Aragão, cientista político.
Professor Márcio Meirelles
AS LIÇÕES DO PASSADO
A proclamação do presidente eleito foi uma vitória da democracia.
A mudança de um estilo de governo, de direita para a esquerda, os rumos da economia no país, a questão fiscal, a consolidação dos poderes constituídos, o fortalecimento da democracia e não faltará polêmica para os próximos anos de governo.
A primeira vista, a jovem democracia brasileira esbarrando em direita e esquerda, em busca de sua identidade.
Direita e esquerda no país podemos considerar como mãos de direção de trânsito.
Se dizem de direita e esquerda com pitadas de conservadorismo rançoso e uma esquerda experimentadora de princípios progressistas.
Temos um longo caminho a percorrer para a consolidação destas ideologias políticas e econômicas.
A necessidade urgente dos poderes exercerem as suas funções constitucionais onde o poder executivo lidere o país; um poder legislativo que legisle não transferindo ao poder judiciário a sua função e o ao poder judiciário que se recolha aos autos.
A dúvida que ronda o planalto na desconfiança do controle fiscal gera incertezas nas contas públicas.
Teto de gasto, PEC da Transição, instrumentos de controle de gastos, mas não de geração de receitas.
O limite de gastos, como teto, é um sinalizador para o dispêndio da gestão pública, mas, uma reflexão para a busca de receitas!
O teto não se limita apenas ao teto, como inibidor de gastos, mas para a busca de alternativas de redução de gastos.
Assim foi a instituição do teto, no governo Temer, com a reforma da previdência para aliviar o caixa e a reforma trabalhista para a busca da produtividade, o aumento do emprego e renda.
A grande reforma, a Reforma Tributária, está na gaveta dormitando.
Em 2003, fevereiro, em Atos e Fatos, escrevi sobre o tema e o mesmo continua na estaca zero e em um ambiente econômico muito complicado para ser implantada: “O CUSTO DA MUDANÇA-O governo do Presidente Lula, em seus primeiros trinta dias, vai de vento em popa. O índice de aceitação do Presidente é de 83%, conforme pesquisa de opinião. A sociedade brasileira está consciente que as mudanças serão feitas e dão tempo ao governo para as suas ações. O casamento do povo com Lula, tão sublime, diz que a lua de mel será longa devendo passar dos cem dias. A explicação deste mar de rosas está na figura do Presidente, homem humilde, carismático, com personalidade, que lhe permite andar pelos salões do mundo da diplomacia e governos estrangeiros cativando as pessoas pela sua autenticidade. É a política do olho no olho como sua mãe ensinou. A grande dificuldade do Presidente Lula será apaziguar a ala radical do PT que exige explicações do aumento da taxa de juro, o rompimento com o FMI, o não a ALCA e o calote da dívida externa. Aí que mora o perigo e o coitado do combatente e combatido ex-deputado federal e atual Presidente do PT, José Genoíno, levou uma torta na cara. A torta é democrática, mas, o diálogo e o entendimento enobrecem a democracia. Senhor Presidente continue na sua luta, mas tome contas das suas cabras. O país está mudando.” Este artigo tem vinte anos! Tudo na mesma.
O presidente Lula não fez nos seus governos nenhuma reforma, pelo contrário, bloqueou todas e a bancada do PT no Congresso não ratificou a Constituição de 1988 e não aprovou o Plano Real.
A preocupação da sociedade nos recentes pronunciamentos do presidente sobre o viés não liberal do seu governo, com o aumento de gastos como uma forma de crescimento (não deu certo no seu governo e nem da sua sucessora); a intervenção nos preços da petróleo e energia elétrica (não deu certo e inviabilizou financeiramente os dois setores).
Vinte anos na vida de um país é um grão de areia na ampulheta do tempo, mas vinte anos no desenvolvimento da sociedade é uma revolução.
O país mudou e as ideias do partido dos trabalhadores, as mesmas!
No plano geral a sociedade percebeu que a gastança ilimitada destrói o país e o liberalismo é uma solução.
A resposta está cristalina para a sociedade: o crescimento do país é uma realidade, bem como, o crescimento das carências não atendidas uma dura realidade.
Dentro desta análise a percepção: o Estado tem que ser mais eficiente, menor, a máquina pública e os gastos têm que ser diminuídos.
Presidente, o Senhor tem uma chance rara, dirigindo o país por três vezes.
Não desperdice esta oportunidade.
O povo brasileiro é feito de esperanças!