Atos e Fatos

“O fanatismo e a inteligência não residem na mesma casa”

Ariano Suassuna

Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto (Foto: Reprodução EBC)

Professor Márcio Meirelles

ENTRE O PASSADO E O FUTURO

Hoje, levantei-me com o firme propósito de não escrever mais, depois das cenas animalescas da invasão dos poderes na capital federal.

São mais de 20 anos de coluna, precisamente 23 anos, em que vi a esperança escorrer pelos vãos dos dedos.

Um sentimento de fracasso!

Se crescemos sobre certos aspectos econômicos, vivemos uma democracia sôfrega, um emburrecimento avassalador da sociedade.

A falta de educação, ética, respeito ao semelhante e ao construído.

Imaginar que os palácios dos poderes constituídos foram idealizados em um plano baixo, sem muros e fortalezas, na sensibilidade do arquiteto, para que o povo visse através das vidraças as entranhas do poder e o fácil acesso na conquista da liberdade e na consolidação da democracia.

Palácios enormes e leves flutuando na planície não interferindo na paisagem plana do planalto.

Impossível imaginar que o arquiteto maior do país não desenhou prédios para uma sociedade  retrógrada, atrasada.

Ele acreditava, como eu, em um país melhor, mais preparado, educado e evoluído!

Palácios que abrigam obras de arte de artistas brasileiros que projetaram o país mundialmente sendo ultrajados, roubados, riscados a ponta de faca.

O interessante que os invasores não são os que invadem depósitos de ossos, que moram nas ruas.

A grande maioria servidores públicos que moram na capital federal.

Um país tão promissor que se apresenta como o país que não deu certo.

É muito triste, decepcionante!

A praga maligna de Nelson Rodrigues a nos perseguir o complexo de “vira lata” que representa o que vivemos e nos espera o futuro.

O complexo de ‘vira-lata” vem do futebol, uma paixão brasileira que se apaga a cada campeonato mundial de futebol.

A lembrança dos tempos maravilhosos e de uma grande nação que se criava: a era Pelé!

O soco no ar com a mão fechada, a marca de Pelé, um gesto, um grito silencioso, que representava a marca do país liberto da escravidão, do colonialismo, a ausência  do racismo e viés de preconceito.

Da sua epopeia nos campos da Europa, defendendo o seu país, o apoteótico gol marcado aos 17 anos na Copa da Suécia, em 1958.

Pelé representava o Brasil moderno, o novo, industrializado, de Brasília, Maria Ester Bueno e Eder Jofre, a juventude brasileira embalada pelos jovens cariocas de Ipanema: a bossa nova!

Era o Brasil que nos amávamos e acreditávamos que daria certo.

O mundo se reverenciava ao tropicalismo brasileiro e nos orgulhávamos de ser brasileiro.

No campo das lendas várias histórias sobre a presença de Pelé.

Em uma delas, interrompeu um conflito armado na Nigéria.

Interrompeu uma guerra civil!

Passou incólume no período do Milagre Brasileiro, da ditadura militar, apesar dos militares terem usado a sua imagem, principalmente, quando serviu o exército.

Pelé driblou esta fase como os seus dribles inexplicáveis em que usava a perna do próprio adversário para fazer uma tabela.

Se saiu ileso!

Um gênio, simplesmente, que veio do nada e tudo conquistou.

Um brasileiro nato, exemplo para os seus semelhantes.

Apesar de sua vida particular cheia de percalços a sua imagem se manteve como um perdão do povo brasileiro.

Lembrar de Pelé e seu feitos e trazer à memória os últimos acontecimentos de Brasília, a pergunta sem resposta:

– Onde erramos?!

Compartilhar é se importar!

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