Atos e Fatos
“Os ataques ao Banco Central projetam uma imagem de imaturidade institucional”
Murilo Aragão, cientista político
Professor Márcio Meirelles
VAMOS EM FRENTE!
Pelo visto o país terá um segundo semestre esperançoso!
A crise americana não é a que se previa, o mercado europeu se restabelece, a guerra no leste europeu dá sinais de cansaço e a China, mesmo com crescimento médio, é alentador.
Porém, sempre, o, “porém”, no âmbito interno algumas pedras pelo caminho.
O presidente mordendo e o Hadad assoprando!
Uma dupla que está dando certo. O problema, até quando?
A inflação em baixa, queda do dólar, declínio no desemprego, uma supersafra, queda no preço do petróleo, tendência de baixa da taxa Selic e o aumento na projeção do PIB anual.
Entretanto, estes números animadores são provenientes do cenário externo e da pujança do agronegócio. Só e tão somente!
O maior problema que o governo enfrentará é o resultado do arcabouço fiscal que dará os seus primeiros sinais de consistência no final deste ano.
A grande dúvida é se arrecadação mostrará vitalidade para a execução dos programas sociais do governo, aliás, compromisso de campanha.
De dez especialistas no assunto sete não acreditam no sucesso do arcabouço afirmando que o teto de gastos anterior era mais consistente. Ver para crer!
A questão do arcabouço está relacionada à reforma tributária, das mais complexas, em razão dos impactos setoriais (aumento da taxação de serviços) e o aspecto federativo.
A princípio, a crítica ao federalismo a perda de autonomia e a disputa em torno dos valores de repasses de fundos a serem bancados pela União para estados e municípios.
Acrescentar um fato positivo: as relações do Legislativo e Judiciário se adequam, como deve ser em uma democracia, os freios e contrapesos, coibindo eventuais deleites e deslizes do Poder Executivo.
O presidente Lula, até o presente momento, não mostrou engajamento na matéria e não participou de nenhuma negociação.
Tal aspecto é preocupante diante dos fortes lobbies que a matéria propicia. E não serão poucos!
O grande problema que o governo enfrentará com a reforma tributária serão as compensações às perdas que estados e municípios sofrerão e terão a oportunidade de resgatar com a regulamentação à aprovação da reforma.
Fato relevante que poderá transformar a reforma em um remendo!
O silêncio do presidente Lula no não envolvimento na reforma tributária é a relevância do cacoete do partido dos trabalhadores contra as reformas.
A atitude atrasada e negativa do presidente, reflexo da linha ideológica de seu partido, suspendendo a implantação do marco regulatório do saneamento, mudanças nas regras de privatização da Eletrobras, as ameaças na revisão da reforma trabalhista, a suspensão da reforma do ensino e os comentários não condizentes com um chefe de estado sobre a independência do Banco Central.
Os reflexos econômicos e sociais deste atavismo ideológico contra as reformas é o resultado de um país que tem um capital humano de baixa produtividade, um capital físico avesso a inovação, um país que não cresce diante da insegurança econômica.
Crises sistêmicas ressaltam a resiliência do país. Até quando?
Os ataques ao Banco Central são preocupantes pelo fato de repercutir internamente nos negócios e externamente nos investimentos.
A discussão sobre a independência do Banco Central demonstra o atraso institucional do país no aspecto econômico e político.
As críticas ao Banco Central demonstram a total imaturidade política de nossos governantes que se omitem em sua incompetência e transfere a culpa a instituição que é responsável pela estabilidade da moeda.
O Banco Central foi criado em 1964 e um dos últimos países da América Latina em implantá-lo: o primeiro em 1923 na Colômbia e o último Argentina 1935.
A dificuldade de os petistas não compreenderem como funciona o Banco Central que precisa ser um órgão de Estado e não de governo e ter autonomia operacional para as decisões adequadas e urgentes.
A independência e autonomia é justamente um antídoto para os oportunistas e demagogos.
O presidente Lula quando assumiu o seu primeiro governo a taxa Selic era de 26,5% (em 2002-18%), meta de inflação de 3,75% para 4,25%, inflação de 9,3%, e encerrou o seu primeiro mandato com uma taxa de juro de 13%.
Bancos Centrais erram, mas acertam mais!
E os governos?