Atos e Fatos

“Que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe”

  Walter Benjamin

Buscas por vítimas da chuvas em São Sebastião (Foto: Reprodução GESP)

Professor Márcio Meirelles

ÀS ÁGUAS DE MARÇO EM FEVEREIRO

O país inaugura o ano com tragédias.

Está se transformando em um fato natural como o Carnaval.

As “Águas de março”, letra impecável de Tom Jobim, que Carlos Drummond de Andrade confessou ser incompetente de produzir algo semelhante, descreve um verão brasileiro que está se transformando em tragédia.

As “Águas de março” de Tom Jobim, de uma época em que acreditávamos que o país daria certo!

Um belo horizonte, vento ventando, o fim da ladeira, mas se transformou em um poço profundo, o fim do caminho.

Nos últimos anos a tragédia se repete: Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Baia e agora São Sebastião.

O ritual é sempre o mesmo, pessoas desabrigadas, soterradas e mortas.

É pau, é pedra, o fim do caminho!

A visão de helicóptero das autoridades responsáveis, a bota suja de lama do presidente, visita de moto-esqui e o ano que vem novo desastre em outro Estado brasileiro. Será assim!

O de São Sebastião foi diferente.

No meio de tanta desgraça será que a presença do presidente da república, governador do Estado e prefeito local, de partidos diferentes, se unem para avaliar a situação dramática da cidade e entorno.

 É uma nova maneira de fazer política?

O diálogo e a paz estão retornando ao cenário político?

Á promessa de vida em seus corações.

Novos tempos!

Vivemos no mundo da tecnologia, de estudos avançados de climatologia, recursos disponíveis para se precaver dos desastres.

No desastre nas serras fluminenses, em 2011, houve desvio de dinheiro para a recuperação e prevenção, mais que nada, é a lama é a lama em todos os sentidos.

O olhar constrangedor do governador do Estado do Rio de Janeiro da época, Sergio Cabral, avaliando o desastre de um helicóptero, tão compenetrado como o seu andar, de mãos algemadas, rumo ao cumprimento da pena de 400 anos, por corrupção. Está solto!

Em São Sebastião pelo menos vimos os dirigentes políticos tomando decisões emergenciais e planejando a reparação.

Vidas não se recuperam, somente lembranças, mas que devem se transformar em soluções definitivas para um flagelo nacional: a falta de moradias.

Por que soluções de prevenção não são implantadas com antecedência para amenizar o desastre?

É o mistério profundo, é o queira não queira.

No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho!

É inacreditável que empresas brasileiras de alta tecnologia, órgãos públicos, fotografias de satélite, cientistas com expertise para informar e sugerir não são ouvidos, lidos e interpretados, disponíveis para oferecem conhecimento para evitar tragédias.

 Não são lembrados pelo poder público municipal!

A sensação de que o desastre é o momento para pedir verbas.

 É verão e todo ano chove!

É o fim do caminho?

Será que as autoridades do município nunca imaginaram que um dia, desastres desta natureza, poderiam acabar legando-os a falta de confiança, credibilidade?

O uso de sirenes salvando vidas, com custo baixo.

Medidas simples como o levantamento de dados (existentes) para a confecção de um mapa de risco para o município onde vidas podem ser evitadas e soluções encontradas para amenizar os danos?

Porque o poder público municipal, através da Defesa Civil, junto aos bairros listados como risco eminente, não cria brigadas de escape no mesmo estilo das brigadas de incêndio nas empresas?

O brigadista, pessoa conhecida no bairro com treinamento específico poderia cumprir este papel de cidadão salvando vidas.

Soluções simples que salvam vidas.

É a promessa de vida no teu coração.

A questão da mudança climática é uma realidade e uma preocupação mundial o que reforça a necessidade de ações imediatas – poder público e sociedade – para reverter a situação.

A ciência, o conhecimento, a vontade política e o bom senso para evitar tragédias de verão.

Das águas de março, é o fim do caminho

São as águas de fevereiro destruindo o país

São as águas de março fechando o verão

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