Pedido para retirada de cobradores deixa categoria e sindicato preocupados em Guará
Urgência é rejeitada na Câmara dois meses depois de vereadores aprovarem emenda sobre obrigatoriedade de profissionais
Leandro Oliveira
Guaratinguetá
O Sindicato dos Condutores do Vale do Paraíba criticou a solicitação da Prefeitura de Guaratinguetá pela urgência na votação do projeto de lei que trata da retirada gradual dos cobradores de ônibus das linhas municipais. A proposta foi barrada na última quinta-feira, na Câmara.
O pedido deixou a própria categoria preocupada, já que o PL chegou à Câmara dois meses após a Casa ter aprovado a obrigatoriedade dos cobradores nos ônibus de forma unânime.
Em abril, os parlamentares votaram as emendas do projeto de lei do transporte coletivo de Guaratinguetá. Entre as emendas estava a que assegurava a obrigatoriedade dos cobradores nos ônibus. Em comum acordo, todos os 11 vereadores se posicionaram a favor da obrigatoriedade.
Dois meses depois, um pedido de votação em regime de urgência para retirada gradual dos empregados recolocou o tema em pauta, mas acabou barrado. Foram dois votos favoráveis, de Marcelo da Santa Casa (PSD) e João Pita (PSB) contra seis votos de Márcio Almeida (PPS), Luizão (PR), Décio Pereira, Nei Carteiro, Tia Cleusa e Fabrício Dias, todos do MDB. Já Pedro Sanini (PTB) e Marcos Evangelista (PSDB) não estiveram presentes na sessão.
“Esse pedido de urgência é normal, porque o projeto pede urgência, até porque para que se lance o processo licitatório, é preciso saber se haverá ou não cobrador. O que entendemos é que o prefeito quer acabar com essa situação de incerteza e ter tudo definido”, destacou João Pita, voto vencido na última quinta-feira.
Mesmo com a rejeição pela urgência, a proposta preocupa os cobradores. “Me preocupa muito. Não é a primeira vez que fazem isso. Estão tentando tirar os cobradores. Está difícil conseguir emprego e são quase cem famílias, é preciso se preocupar”, respondeu um funcionário, que trabalha como cobrador há dois anos e preferiu não se identificar.
O pedido não agradou o sindicato da categoria. Manoel Galvão é vice-presidente do Sindicato dos Condutores do Vale do Paraíba afirmou que a intenção vai contra o que foi assegurado pelos próprios vereadores há dois meses. “Na época fizemos um movimento, os vereadores viram que iam perder e mantiveram o posto de cobrador. Agora, para nossa surpresa, o prefeito mandou esse projeto em regime de urgência, pedindo que na última sessão antes do recesso fosse votado para retirar os cobradores. Ficamos sabendo em cima da hora, mas acabou rejeitado. Só que nós estamos de olho, porque voltando do recesso o projeto pode voltar”, salientou Galvão.
Ele afirmou que o sindicato não vai aceitar a retirada de nenhum cobrador e, caso o PL volte à discussão, os sindicalistas vão protestar.
Prefeitura – Em entrevista ao Jornal Atos, o prefeito Marcus Soliva destacou que a proposta apenas seguiu a tendência daquilo que o serviço pede. “Já está mais do que mastigado que cobrador já é uma profissão em extinção, porque com a modernidade da bilhetagem eletrônica, essa função perde a necessidade no serviço. Isso diminui o custo da passagem. Hoje, o peso dos cobradores no preço dos bilhetes chega a 10% do preço de uma passagem, ou seja, de R$ 3,50 cobrados, pelo menos 35 centavos é referente ao custo do salário dos cobradores”.
Sobre a retomada do debate, menos de três meses após a aprovação da emenda que assegurava os cargos, Soliva destacou que a Prefeitura já buscava alternativas diferentes no projeto de lei enviado em novembro para a Câmara, que, segundo o Executivo, deixava flexível a obrigatoriedade ou não de cobrador, de acordo com linhas deficitárias, com sistema colocado de acordo com as normas a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo) na licitação. “O objetivo seria fazer o bilhete com menos pressão de aumento em cima do que já é cobrado hoje. Temos visto todas cidades aumentando o preço de bilhete, mas aqui em Guaratinguetá é o mais baixo do Vale. Estamos tentando uma licitação para manter o preço baixo, seguindo normas que abram essa possibilidade de que as empresas que vierem participar aceitem aquilo que estamos pensando em fazer, que é colocar o preço máximo R$ 3,50. Daí pra baixo, quem der o menor preço e atender as exigências da licitação é o vencedor do certame”, explicou.
O prefeito garantiu que vai retirar o projeto. “Vou estabelecer um novo formato de licitação, diminuindo linhas, passando linhas deficitárias para complementar, alguma coisa. Temos que bolar um meio de não ter pressão de aumento tarifário”.
Entre as possíveis medidas, a colocação de transporte complementar em linhas consideradas deficitárias, ou seja, com baixo fluxo de passageiros. “Não há necessidade de um baita ônibus (sic), com motorista e cobrador, para oitenta pessoas, sendo que andam oito passageiros e desses, 5 ou 6 passam cartão de transporte, nem pagam em dinheiro. Aguardamos agora um posicionamento do edital que vamos soltar nos próximos 20, 30 dias”, contou Soliva.