Câmara rejeita nova investigação sobre Rogéria e citados por compra de votos e abre processante contra Nenê, Thálitha e Adriana

Denúncia do próprio Nenê apura denúncia de prática ilícita e supostamente descontextualização de fatos; vereadoras questionam desvio de foto de conteúdo para divulgação

Nenê (esq.) que denunciou Adriana e Thálita (dir.) por descontextualizar falas de Rogéria em áudio (Foto: Arquivo Atos)

Thales Siqueira
Cachoeira Paulista

A sessão da Câmara de Cachoeira Paulista na noite da última terça-feira (30) foi marcada por mais um capítulo da polêmica sobre o áudio vazado com declarações sobre esquema de compra de votos na Casa. Foram dois pedidos de processantes, mas apenas um deles conseguiu seguir com abertura dos trabalhos.

Um pedido para abertura de uma processante contra os vereadores Rogéria Lucas (Podemos), Nenê do São João (PSB), Dil Fonseca (PSD), Carlinhos da Saúde (PL) e Ângela Protetora (MDB) por quebra de decoro e suposta prática de ato de corrupção ao receberem proposta ilícita foi barrado, ao contrário do pedido de Nenê: uma comissão processante aberta para investigar o próprio vereador por suspeita de negociar votos à favor do ex-prefeito Edson Mota (PL), além das parlamentares Thálitha Barbosa (PT) e Adriana Vieira (PTB) por acusação de descontextualizar os fatos e divulgar a gravação de Rogéria.

A primeira solicitação de processante, feita por Iris Mary Batista de Assis, moradora de Cachoeira, foi rejeitada por 9 votos a 3. Todos os vereadores que são citados por Rogéria no áudio vazado, inclusive a própria parlamentar, votaram pela rejeição. Além deles, Max Barros (União), Felipe Piscina (União), Rodolpho Borges (Rede) e Brejão (PSC) foram contra o pedido. Apenas Thálitha, Adriana e Agenor do Todico (PL) votaram a favor da investigação.

Essa não é a primeira vez que Rogéria consegue escapar de ser investigada na Casa pelo conteúdo do vídeo. No último dia 26, a solicitação de processante feita por Helena Haritidis Luiz, outra moradora de Cachoeira, por negociação de seu voto a favor de Mota e contra o parecer do TCE (Tribunal de Contas do Estado), colocou a vereadora no foto da acusação, além de divulgar o nome de outros envolvidos e não ter comunicado à Comissão Ética. A denúncia foi rejeitada por 7 votos a 4.

Rogéria está no núcleo da polêmica após um áudio viralizar nas redes sociais em que revela que quatro parlamentares teriam sido pagos para votar a favor do ex-prefeito. No áudio, ela conta que pediu que Mota assuma as prestações do seu carro e cita o colega de Tribuna, Nenê do São João, como autor da oferta de R$ 5 mil a mando de Mota para aprovar suas contas.

Na gravação, Rogéria diz ainda que a vereadora Ângela Protetora também teria recebido R$ 5 mil e o vereador Carlinhos da Saúde teve as prestações do seu carro pagas por Mota. O nome do vereador Dil também é citado no suposto esquema armado para favorecer o ex-prefeito e não atrapalhar a sua possível candidatura na próxima eleição.

Ainda terça-feira (30) foi lida outra denúncia de autoria do próprio vereador Nenê pedindo uma investigação contra Thálitha e Adriana por “ferirem a imagem da Câmara e dos parlamentares”. O colega de tribuna expõe que “a suposta conduta das vereadoras, que teriam operado gravação da parlamentar Rogéria Lucas sem autorização da mesma e sem autorização judicial constitui crime”. Ele denunciou ainda que a divulgação do áudio de forma descontextualizada, com o intento de difamar e caluniar os parlamentares, configura afronta ao decoro parlamentar. Nenê ainda pede que o mesmo seja investigado por supostamente ter realizado práticas ilícitas alegando que essa denúncia foi elaborada para esclarecer os fatos, pois ele vem sendo alvo de acusações mentirosas e caluniosas.

A processante foi aprovada por 11 dos 12 votos possíveis. Apenas o vereador Agenor do Todico foi contra a denúncia. Durante a votação, Thálitha alfinetou a acusação. “Não fiz nada de errado, pode investigar”. Já Adriana frisou. “Firmes no combate à corrupção, eu aprovo”.

Por ser o denunciante, Nenê do São João não pode votar, e foi substituído pelo suplente Dimas Estevam (PSB). A comissão processante foi formada por Ângela (que teve o nome vinvulado no áudio vazado) como presidente, e os vereadores Brejão (membro), e Agenor (relator).

Thalitha utilizou o momento na tribuna livre para mostrar a indignação com as acusações e votações na Casa. “Chega a ser cômico, isso é uma vergonha! Não tem sentido nenhum. Sinceramente, eu não consigo entender. É um absurdo. É aterrorizante. É ridículo. Eu sinto vergonha disso, zombando com a cara do povo”.

A vereadora afirmou estar revoltada pelo fato dos vereadores que estão envolvidos no suposto áudio de corrupção não buscarem provar ser inocentes ao votarem contra a denúncia e optarem por abrir uma processante para cassar o mandato dela e de Thálitha. “Eu não descontextualizei nada. Totalmente inversão de valores. O áudio não é a nossa voz, chega a ser caótico. Não foi eu nem a vereadora Thálitha que falamos, foi a vereadora Rogéria. Então quem tem que ser investigada é a vereadora que falou e quem está envolvido na denúncia”.

Ainda de acordo com a vereadora Adriana, Rogéria relatou, inicialmente, o caso de indícios de corrupção na sua presença, da vereadora Thálitha e da promotoria. “Ficamos muito surpresas com o contexto e fomos juntas com ela fazer a denúncia na delegacia anticorrupção. A Rogéria ficou com medo de fazer a denúncia e o delegado orientou que a gente procurasse a Polícia Federal. Aí, quando conseguimos agendar, a Rogéria mudou totalmente o discurso, votou a favor das contas e começou a agredir a gente”, contou.

A reportagem do Jornal Atos questionou Ângela Protetora o motivo dela ter votado contra as denúncias das moradoras Helena e Íris, e se acredita que Rogéria não precisa ser investigada. “A vereadora Rogéria já foi ouvida pela Polícia Federal, antes da sessão da semana passada. A primeira (processante) foi apresentada somente com o nome da Rogéria. A de hoje (denúncia da Íris) sem os nomes das duas vereadoras (Adriana e Thálitha). Nenhuma processante estava completa. Acredito que todos precisam ser ouvidos. A Rogéria já foi”.

O vereador Nenê também foi procurado pela reportagem do Jornal Atos e questionado sobre o nome dele ter sido citado pela vereadora Rogéria, e se acredita que também seria necessário investigar a parlamentar. “A questão da Rogéria já está na Polícia Federal e já está em outros órgãos investigando. Agora, o da Adriana e o da Thálitha não estavam em nenhum órgão sendo investigado. Se houve uma prevaricação tem que ser investigado. No entanto, a Rogéria, a qualquer momento, pode ser chamada na Comissão, ser ouvida e interrogada também”.

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