Guará retoma desfiles das escolas de samba com destaque para crenças e histórias
Terça-feira de Carnaval na avenida Presidente Vargas promete reunir mais de 2,5mil pessoas para assistir as apresentações
Fabiana Cugolo
Guaratinguetá
Livre das restrições por conta da pandemia da Covid-19, o tradicional desfile das escolas de samba em Guaratinguetá voltará a ser realizado na terça-feira de Carnaval. As seis agremiações passarão pela avenida Presidente Vargas.
A ordem do desfile, conhecida após sorteio da Oesg (Organização das Escolas de Samba de Guaratinguetá), em julho do ano passado, definiu o seguinte cronograma: Beira Rio da Nova Guará, seguida pela Mocidade Alegre do Pedregulho, Bonecos Cobiçados, Embaixada do Morro, Acadêmicos do Campo do Galvão, e, fechando a noite, Unidos da Tamandaré.
O desfile tem início às 21h e a avenida deve receber um público de mais de 2,5 mil pessoas. Neste ano, os ingressos foram distribuídos nas sedes das escolas, por meio de troca, com a doação de um quilo de alimento. Cada pessoa pôde retirar um número máximo de dois ingressos. O desfile das escolas de samba será transmitido com imagens ao vivo pelo Facebook e YouTube da Prefeitura de Guaratinguetá.
Com a missão de abrir o desfile na terça-feira, a Beira Rio da Nova Guará, traz a avenida o enredo “Herança Canjerê”, que celebra o jubileu de ouro da escola, que não pôde ser comemorado em anos anteriores por conta da pandemia. A agremiação vai ao desfile com seiscentos componentes, oito alas, além das baianas e da bateria, e com três alegorias e o um tripé compondo a comissão de frente. De acordo com a carnavalesca da escola, Monique Reis, estreante em Guaratinguetá, mas com experiência no carnaval de Taubaté, onde é presidente da Imperatriz do Morro e presidente do Conselho de Cultura da cidade, os destaques do desfile da representante da Nova Guará serão a coreografia da bateria e a volta do símbolo da escola, com retorno da coruja à avenida.
“Canjerê é a festa que se toca e que se dança para os deuses que dançam. Ao contrário do cristianismo e do islamismo, onde os deuses são intocáveis, os deuses de religião afro-brasileira dançam, através do toque do tambor eles se manifestam entre nós. Esse toque vem de África, trazida pelos escravos, chegou aqui, formou o candomblé, que depois formou a umbanda, e aí vem, a malandragem, a boemia, que formam o samba, e do samba, surge a Beira-Rio, que faz 50 anos”, explicou a carnavalesca.
Segunda escola a se apresentar na avenida, atual bicampeã do Carnaval (2019-2020), a Mocidade Alegre do Pedregulho vem com o enredo “Grandes batalhas só são dadas a grandes guerreiros”. De acordo com o carnavalesco da escola, Ailton Cunha, o destaque da escola, que deve contar com cerca de seiscentos componentes, onze alas e três alegorias, serão os carros alegóricos grandes e trabalhados. “O nosso enredo fala dos guerreiros da história, dos grandes guerreiros brasileiros, o guerreiro romano, e nós estamos falando dos próprios guerreiros da escola, que nesses últimos anos deram o bicampeonato para a escola, trabalharam arduamente para chegarmos a esse patamar que a Mocidade está hoje”.
Terceira escola a entrar na avenida Presidente Vargas, a Bonecos Cobiçados, do Campinho, traz cerca de quinhentos componentes e três alegorias, abordando as tradições das festas juninas brasileiras com o enredo “Com os santos de nossa devoção, o Arraiá de Antônio, Pedro e João”. O carnavalesco da escola, Celso Navarro Valls, frisou sua vinda à Bonecos e a nova diretoria da agremiação que têm trabalhado por uma nova visão plástica do que foram os carnavais passados. “Procuramos fazer um trabalho amplo, porque é um leque, falar sobre festa junina, devoção de todos os santos, você vem com a religiosidade, com a história, com colonização trazida desta grande festa portuguesa que veio para o Brasil e se espalhou por todo território nacional, onde ela sofreu alterações”, explicou Valls.
A Embaixada do Morro é a quarta escola a passar pela avenida, trazendo o samba do Alto das Almas com o enredo “Tambor, o Senhor da Alegria”. A vermelha e branca terá 750 componentes, 12 alas, além da bateria, ala das crianças, baianas, comissão de frente e mestre-sala e porta-bandeira, quatro alegorias e um tripé. De acordo com o presidente da escola, José Carlos Leite, o Mestre Zé Carlos, um dos destaques será a comissão de frente com artistas vindos de São Paulo, da escola de samba Vai-Vai.
O presidente explicou a história do enredo. “A gente conta a criação do mundo segundo a mitologia congolesa, onde Zambiapongo, que é o deus, muito triste, resolveu parar a criação do mundo. Com isso, todos os inquices, seus filhos, foram buscando maneiras para poderem alegrar o coração do pai deles, uns levaram oferendas, outros criaram rios, mas nada alegrava o coração dele. Até que um dos filhos dele, Zazi, foi buscar uma orientação em um oráculo, onde falaram pra buscar um animal, fazer um banquete e tirar a pele. No primeiro tronco de árvore, construir um tambor e começar a tocar, o que encheu o coração do pai dele de alegria e deu continuidade à criação do mundo”, detalhou.
Quinta escola a desfilar, a Acadêmicos do Campo do Galvão vem com o enredo “Congada ao Rei Negro: São Benedito uma história de fé, amor e devoção!”. A escola desfilará com cerca de setecentos componentes, 12 alas, três alegorias, além da comissão de frente, baianas e bateria. O carnavalesco da Acadêmicos, o carioca Fran Sérgio, já passou pelo Campo do Galvão em edições anteriores e tem trabalhos realizados em diversas agremiações do Rio de Janeiro, como a Beija-Flor de Nilópolis.
“Tem um ‘quê’ a mais esse enredo, porque a escola resolveu falar do seu próprio padroeiro, que é São Benedito, e tem essa ligação muito forte com a cidade, com o bairro. Guaratinguetá é um lugar que tem essa ligação com o religioso. Então, a escola decidiu homenagear seu padroeiro, que é um santo tão cultuado e festejado pelo Brasil. Estamos muito felizes, fazendo um trabalho minucioso, pois estamos falando da religiosidade junto ao Carnaval”, enfatizou Fran Sérgio.
Para encerrar o tradicional desfile neste ano, a Unidos da Tamandaré apresenta o enredo “Sollicitus: Quem não vive pra servir, não serve pra viver”. A escola contará com cerca de mil componentes, 12 alas e três alegorias. De acordo com Dunga, diretor de Carnaval da agremiação, a Tamandaré promete fazer um desfile emocionante e aguerrido, por conta de ser a última escola a desfilar. “A Tamandaré vai contar na avenida um pouco da solidariedade, que teve muito destaque depois da pandemia, mas essa solidariedade já existia, lá no tempo de Jesus Cristo, onde um já ajudava ao outro, já ajudava ao próximo”, explicou.