Câmara arquiva processante contra Thálitha, Adriana e Nenê
Comissão, que sofreu com desistências, alegou falta de tempo hábil trabalhos; investigação focou acusações de compra de votos a favor de Edson Mota em áudio vazado
Thales Siqueira
Cachoeira Paulista
Após mais de cinco meses e um verdadeiro “troca-troca” de membros na comissão processante, a Câmara arquivou por 10 votos a 1, a denúncia sobre as vereadoras Thálitha Barboza (PT) e Adriana Vieira (PTB) pela divulgação do áudio vazado de Rogéria Lucas (Podemos) em um caso de suposto esquema de compra de votos em Cachoeira Paulista. Além da dupla, Nenê do São João (PSB) também era réu no processo, solicitado pelo próprio parlamentar.
No dia 30 de maio, o parlamentar fez uma denúncia contra ele mesmo com o propósito de investigar a suspeita de negociação de votos a favor do ex-prefeito Edson Mota (PL). Nenê foi apontado, em vídeo divulgado nas redes sociais, com voz de Rogéria Lucas, de estar negociando votos na Casa a favor de Mota. Já Thálitha e Adriana foram acusadas de descontextualizar os fatos e divulgar a gravação de Rogéria de forma inadequada.
Durante a sessão, após a leitura do parecer final da comissão formada pelo presidente Max Barros (União), o relator Felipe Piscina (União) e o membro Rodolpho Borges (Rede), que pediu o arquivamento do caso, a Câmara aprovou o apontamento da processante. Foram dez votos favoráveis para o encerramento das investigações e 1 voto contrário. Apenas Nenê do São João foi contra o arquivamento.
A justificativa para o arquivamento da processante foi que não havia mais tempo hábil para realização dos trabalhos de investigação já que o prazo tinha terminado.
Max colocou a culpa na colega de tribuna, Ângela Protetora (MDB), alegando que ela levou dois meses para renunciar a sua vaga. “Como outros vereadores não queriam fazer parte da comissão automaticamente eles protocolaram o mais rápido possível a sua renúncia. Já a vereadora Ângela ficou mais de dois meses com o documento parado. Como que a comissão vai dar andamento nos trabalhos? Porque não tem tempo hábil para fazer os trabalhos. Ficou nessa Casa dois meses parado por irresponsabilidade da vereadora Ângela”, atacou Max.
Rodolpho Borges, que foi o último a ser sorteado para compor a comissão, também comentou sobre o pedido de arquivamento da processante. “Eu fui o último a entrar nessa comissão, não tinha mais ninguém nessa Casa, todos entraram e renunciaram. A defesa da Thálitha e da Adriana baseou-se no decreto 20167, dizendo que perdeu totalmente o efeito essa processante haja visto que o prazo não foi feito da forma adequada, então não podemos dar andamento numa processante que já estava nula”, destacou.
Procurada pela reportagem do Jornal Atos, Ângela comentou sobre sua saída da comissão. “Eu fui sorteada e depois saí também. Não sei quanto tempo eu fiquei com a citação em mãos. Não me vejo com competência para analisar, ainda mais algo que eu fui citada e não procede de jeito nenhum”.
Um dos focos do processo, Thálitha utilizou as suas redes sociais para falar sobre o arquivamento da processante e lembrou que o caso segue em investigação na Justiça. “A comissão dessa processante, além de não comprovar as alegações impostas contra nosso mandato, também deixou passar o prazo legal”.
Entra e sai – Desde o dia da abertura da processante contra Thálitha, Adriana e Nenê inúmeros parlamentares fizeram parte de sua composição. Luiz Gonzaga Brejão (Pode) foi o primeiro a renunciar a sua vaga na comissão, no dia 6 de junho, alegando foro íntimo. Na sessão, realizada no dia 20 de junho foi a vez de Agenor do Todico (PL) e Dil Fonseca (PSD) pedirem para sair. A mesma sessão indicou Rogéria Lucas, exatamente a vereadora que teve seu áudio vazado, para a apuração. Mas ela também abdicou de sua vaga no dia 4 de julho. Em 1 de agosto foi a vez da Ângela Protetora (MDB) deixar a investigação, e por fim, no dia 12 de setembro Carlinhos da Saúde (PL) foi o último a pedir para sair.
O que mais chama a atenção é que o conteúdo do áudio vazado de Rogéria nunca foi investigado, mas sim a forma como o material foi divulgado que acabou virando foco da comissão.
Duas denúncias feitas por moradoras de Cachoeira com o objetivo de investigar o áudio vazado e os vereadores envolvidos foram rejeitadas pela Câmara. A primeira solicitação de processante, feita pela moradora Helena Haritidis Luiz, foi rejeitada por 7 votos a 4. A segunda solicitação, da moradora Íris Mary Batista de Assis, também foi rejeitada, desta vez por 9 votos a 3.
O áudio vazado de Rogéria e o suposto esquema de compra de votos movimenta o cenário político de Cachoeira Paulista desde o final de maio. Rogéria foi flagrada em um áudio em que revela que três parlamentares teriam sido pagos para votar a favor das contas do ex-prefeito. Na gravação, ela conta que pediu que Mota assumisse as prestações do seu carro e cita Nenê como autor de oferta de R$ 5 mil a mando de Mota para aprovar suas contas e ir contra o parecer do TCE (Tribunal de Contas do Estado).
Rogéria disse ainda que Ângela também teria recebido R$ 5 mil e que Carlinhos da Saúde teve as prestações de seu carro pagas por Mota. O nome do vereador Dil também é citado no suposto esquema armado para favorecer o ex-prefeito e não atrapalhar a sua possível candidatura na próxima eleição, em 2024.