Atos e Fatos

“Sempre conservei aspas à esquerda e outra à direita de mim”

Clarice Lispector

Bolsonaro e Lula, que disputaram as eleições presidenciais de 2022; polarização persiste (Foto: Arquivo Atos)

Professor Márcio Meirelles

CONTINUAMOS DIVIDIDOS

O presidente Lula em seu discurso de posse, para o seu terceiro mandato afirmou:” vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras…”

Depois o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou 203 milhões de brasileiros e brasileiras.

De qualquer forma, depois de uma vitória apertada, na qual venceu seu opositor por menos de 2% dos votos não deixa de ser uma proposta arrojada quando presenciamos uma verdadeira batalha eleitoral.

O cenário político atual, depois do fatídico 8 de janeiro, a inelegibilidade do ex-presidente, a polarização das urnas, continua semelhante ao período eleitoral, conforme pesquisas recentes.

Até o momento, o presidente Lula não conquistou o eleitor do seu opositor e a sua lua de mel acabou.

Apesar de ter impulsionado projetos importantes para o país como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e um programa de renegociação de dívidas, para as famílias a situação financeira piorou e segue na mesma da época do seu opositor.

Outro problema que tem pesado é o da criminalidade.

O que o presidente Lula tem encontrado de dificuldade é a mudança do cenário político, o presidencialismo de coalização não funciona mais.

A mudança do presidencialismo de coalização descrito pelo cientista político Sérgio Abranches nos anos de 1980 para um semipresidencialismo.

No presidencialismo de coalizão o presidente da República tinha superpoderes sobre o Orçamento, a distribuição de cargos e através de processos fisiológicos arregimentava forças políticas.

O presidencialismo de coalizão foi perdendo a sua força, degradando diante de novos cenários políticos, a interferência do Judiciário no sistema político e eleitoral, orçamento secreto, e pelo processo natural da evolução da política.

O semipresidencialismo de coalização coloca o poder Judiciário no jogo político com o excesso de judicialização, decisões monocráticas e a decisão inédita da criação da independência do Banco Central.

Trata-se de um novo modismo: a politização do Supremo Tribunal Federal.

Daí, as dificuldades de Lula neste seu princípio de governo.

A sucessão de eventos que Lula não teve em seus outros governos se apresenta com um novo equilíbrio institucional que proporcionaram uma nova forma de relação entre os poderes.

Por ironia do destino, estas novas relações de poder, inicia-se no seu primeiro mandato com o escândalo do Mensalão que terminou em prisões e espetaculares julgamentos televisivos.

A sociedade a tudo assistiu.

Como consequência a sociedade vê no julgamento do Mensalão a possibilidade de passar o país à limpo e numa manifestação espontânea consegue número suficiente de assinaturas da população para implantar a Lei da Ficha Limpa.

Uma conquista da sociedade: político vai para a cadeia!

O movimento de 2013, sem liderança política, o povo nas ruas, sem bandeira partidária tira a primazia dos partidos de esquerda que culmina com a operação Lava-Jato, em 2014.

Com isso a formação da maioria no parlamento, antes uma tarefa exclusiva do presidente, passa para as mãos do Congresso e assim foi com Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Rodrigo Maia, Alcolumbre, Artur Lyra e Pacheco.

Evidente que parte da ala governista não aceita este poder do Congresso que subjuga o poder do presidente da República, porém é assim que funciona e que estamos assistindo ao jogo político no ano de 2023.

Quem sabe não estamos construindo um caminho, neste jogo político, para desenvolver habilidades de ceder e conceder para que o país vença as suas dificuldades econômicas, sociais, através de uma política consciente?

O pessimismo toma conta da sociedade, a dificuldade de enxergar um futuro mais promissor e realizar o seu imenso potencial.

Não esquecer que realizamos nestes últimos anos reformas importantes para o país, avançamos, talvez, não na velocidade desejava, mas estamos evoluindo, impedimos um devaneio autoritário, fortalecemos as instituições, reatamos as negociações políticos, restabelecemos a nossa imagem no exterior, negociamos com o mundo, não nos omitimos dos acontecimentos políticos internacionais.

No discurso de posse Lula bateu na tecla de que “não existem dois Brasis”.

O presidente Lula precisará usar de toda a sua habilidade política e experiência para unir o Brasil.

Tarefa para gerações, Senhor Presidente!

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