Contra o frio, a fome e o descaso, ações voluntárias crescem nas cidades da região

Grupos e prefeituras têm projetos de acolhimento e distribuição de alimentos a moradores de rua

Moradores dormem na praça 9 de Julho, no Centro de Cruzeiro; ações tentam amenizar problemas (Foto: Maria Fernanda Rezende)
Moradores dormem na praça 9 de Julho, no Centro de Cruzeiro; ações tentam amenizar problemas (Foto: Maria Fernanda Rezende)

Andreah Martins
Maria Fernanda Rezende
Região

Com as baixas temperaturas registradas nessa época do ano, ações voluntárias e mutirões são organizados para amenizar a situação dos moradores de rua. Na região, locais de apoio fornecem assistência social aos abrigados em praças, quiosques e calçadas.

Um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre os fatores que levam pessoas a se abrigarem nas ruas, mostraram a violência doméstica, o desemprego, problemas de saúde e dependência química ou alcoólica como os principais motivos.

Edimar Silva, que mora nas ruas de Cruzeiro (a maior parte do tempo na praça 9 de Julho), contou que antes de ficar sem um lugar para morar, fazia tratamentos psiquiátricos para se recuperar do trauma causado pela morte da mãe.

Para ele, o mais difícil é suprir as necessidades básicas. “Duas coisas que ninguém segura é a fome e a necessidade (fisiológica). Ganho café, passo o dia inteiro com café. Às vezes ganho lanche a noite”.

Silva vive de reciclagem e reivindica a criação de um albergue que os atenda com comida e local para dormir. “O dono da padaria não gosta que usa o banheiro, porque fala que é só pra cliente. Se um homem não pode usar um banheiro o que ele vale na vida então? ‘Tô’ cansado de urinar na rua. Quando chego pra urinar num lugar que não tem ninguém, às vezes passa um senhor, uma senhora e acha ruim comigo”.

A condição de quem vive sem um lugar para morar é a motivação para a criação de ações voluntárias, como a do pastor Eliel de Almeida, organizador de um grupo de apoio que arrecada doações e distribui cobertores, agasalhos e mantimentos aos moradores de rua na cidade. “Procuramos levar um leite quente com chocolate, um lanche e também cobertores, blusas e roupas. O que conseguimos arrecadar”.

Em Cruzeiro, a Prefeitura afirmou a iniciativa de ações para minimizar o sofrimento dos moradores de rua. A criação de um albergue na sede do Fundo Social da Solidariedade (rua Capitão Dr. Celestino) é umas das propostas da atual gestão, mas que ainda não tem previsão de execução.
Outra medida ainda em andamento é a campanha do agasalho, que distribui peças arrecadadas na cidade.

Morador de rua divide a comida que ganhou de voluntário com cão, em calçada do centro da cidade (Foto: Maria Fernanda Rezende)
Morador de rua divide a comida que ganhou de voluntário com cão, em calçada do centro da cidade (Foto: Maria Fernanda Rezende)

Na região – Em Lorena, universitários utilizam as redes sociais para a divulgação de ações beneficentes. O estudante de rádio, televisão e internet, Pedro Lorena, por meio de perfil no Facebook, conseguiu parcerias de divulgação para levar alimento e mantimentos necessários nessa época do ano. “Foi uma ação de pessoas do bem que se juntaram, sem muitos porquês, apenas para fazer o bem”.

A ação, realizada no último dia 23, teve a arrecadação de quase oitenta cobertores. Uma parte foi destinada à Assistência Social de Lorena. A distribuição também foi feita nas ruas e em abrigos.

“A gente arrecadou umas seis ou sete sacolas grandes de roupa, tênis, sapato e agasalho. Doamos uma parte para o abrigo, aos moradores e achamos uma casa bem simples, como muitos moradores que estava passando necessidades. Deixamos algumas roupas e distribuímos a sopa também”, contou o estudante, que ajudou a levar o alimento aos abrigos dos bairros São Roque e Santo Antônio, além dos abrigados nas ruas.

A Prefeitura realiza ações por meio do Serviço de Abordagem à População em Situação de Rua, que leva atendimento médico com uma equipe de apoio. A realização de exames é feita durante o dia.

O órgão conta com a ajuda do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e da Casa da Acolhida, uma instituição que presta serviço de acolhimento a moradores de rua, em uma casa, na avenida Eugênio Borges, nº 799, na Vila Cida.
O local atendeu 385 pessoas no último mês, oferecendo serviços como refeições, roupas, banho e dormitórios.

Em Guaratinguetá e Aparecida, a situação não é diferente. A dona de um carrinho de lanches, Yndi Julien, também iniciou um trabalho voluntário há três meses, que inclui a distribuição de sopas e agasalhos e atendimento aos moradores de rua das duas cidades. Ela criou um grupo no aplicativo Whatsapp para arrecadar os mantimentos. A colaboração é feita apenas pelos moradores, sem apoio de organizações filantrópicas ou órgãos públicos. “Tudo é feito na minha casa. Separamos as roupas durante a noite. Se não ganhamos todos os ingredientes, eu compro o que falta”.

Segundo a organizadora, cerca de cinquenta moradores de rua são beneficiados. A distribuição é realizada às terças-feiras, quando saem de Aparecida, por volta das 23h, e finalizam em Guaratinguetá. “É muito gratificante poder ajudar esses irmãos, principalmente no frio. Queria poder ter condições de fazer isso todos os dias”, revelou a voluntária.

Em Guaratinguetá, a Prefeitura mantém uma parceria com a Casa Dom Bosco, que acolhe moradores em situação de rua. A secretaria de Assistência Social atende também na sede do Creas da cidade, cerca de trinta moradores de rua diariamente, oferecendo banho, corte de cabelo e alimentação, das 8h às 17h.

O grupo “Anjos Virtual de Plantão”, de Pindamonhangaba, também se dispõe a arrecadar cobertores, roupas e a levar sopa àqueles que vivem nas ruas. A professora Milla Souza busca ajuda em feiras livres, redes sociais e com os moradores da cidade para conseguir mantimentos. “Eu sempre divulgo no Facebook para que outras pessoas tenham a iniciativa de ir (ajudar)”.

De acordo com a voluntária, o número dos desabrigados era maior quando o projeto foi iniciado, há quase um ano. “Tinhas uns 46, agora tem bem menos. Eles estão sendo recolhidos por causa do frio”, contou a voluntária, citando o trabalho da Casa de Apoio de Pinda.

Cachoeira Paulista possui trabalhos em prol dos moradores de rua, como o albergue que funciona no Asilo Antônio de Pádua (conveniado à Prefeitura), a Canção Nova, o Creas e a Casa do Bom Samaritano, que oferece atendimento e orientações, em caso de dependência química.
Outras prefeituras da região foram procuradas pela reportagem do Jornal Atos para que a matéria abordasse projetos de ajuda social e voluntariado, mas não responderam até o fechamento desta edição.

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