Sem encontrar evidências sobre Marco Aurélio, Polícia Civil suspende escavações no Pico dos Marins
Investigação segue com duas possibilidades, entre ela, de que o escoteiro estaria vivo; inquérito continua e família divulga possível “retrato falado”
Gabriel Mota
Piquete
O trabalho de escavação em busca de evidências que ajudem a solucionar o desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio Simon não encontrou rastros que confirmariam que o menino teria sido enterrado no local, em 1985. A ação, realizada na última quinta-feira (30), contou, além das Civil, com a equipe da Polícia Científica (com peritos e um médico legista) e da Prefeitura.
A determinação para a retomada do caso veio da Justiça, liberando a reabertura do inquérito. As autoridades trabalham com duas linhas: a possibilidade de que o escoteiro esteja morto e enterrado nas imediações da base do Pico dos Marins, e outra, em que ele esteja vivo.
Para a escavação foi necessário a liberação judicial, já que o espaço analisado faz parte de uma Área de Preservação Ambiental. As mudanças na base do Pico dos Marins, como o alargamento da estrada de acesso, o surgimento ou o desaparecimento de árvores, ocasionadas no decorrer dos mais de trinta anos, também podem dificultar as buscas.
A expectativa da escavação, dentro de uma casa, gerou comoção na cidade. No decorrer da semana, peritos analisaram o solo com o equipamento de georadar e detectaram um padrão diferente do comum em um ponto da casa. A sinalização foi confirmada novamente durante a diligência da última quinta-feira, antes do início das perfurações.
Desta vez, além o georadar, um detector de metais foi utilizado e dois cães farejadores, adestrados para identificar odores como os de ossos e sangue, percorriam o local a cada faixa de terra que era retirada. A área escavada chegou à profundidade de cerca de setenta centímetros, mas nenhum vestígio foi encontrado.
Após a diligência, o delegado Fábio Cabett, responsável pelas investigações, afirmou que não há motivo para persistir nas escavações dentro da residência, mas se houver alguma nova evidência relacionada à casa, as análises no local podem ser retomadas.
A Polícia agora muda o foco da investigação para a área externa, também na base do Pico dos Marins. Uma das filhas do proprietário da casa no período em que Marco Aurélio desapareceu afirmou ter visto uma cova em 1989, quatro anos após o início das buscas pelo garoto.
Cabett contou que uma escavação deve ser realizada no local, mas ainda não há uma data. “É uma área aberta, mais ampla, então há necessidade de maior cautela por parte dos peritos para que eles procedam com a diligência. Ela é mais complexa”, explicou.
A outra linha, que investiga a possibilidade de Marco Aurélio estar vivo, com base em uma projeção feita a partir de uma foto de Marco Antônio, irmão gêmeo univitelino do escoteiro, ainda não teve avanço. O delegado aguarda o retorno de ofícios enviados a órgãos de Taubaté, onde há relatos de reconhecimento de um homem com feições semelhando à da imagem apontada como o possível “Marco Aurélio adulto”, em situação de rua.
Aos 15 anos de idade, o escoteiro fazia parte de um grupo de cinco meninos que iniciou a subida ao Pico dos Marins, no dia 8 de junho de 1985. A excursão foi interrompida quando um dos garotos se lesionou e não pôde mais andar. O líder da equipe, único adulto, designou tarefas e pediu que Marco Aurélio fosse à frente, abrindo caminho em meio às trilhas, para facilitar a passagem dos demais na volta à base, onde estavam acampados.
O jornalista Rodrigo Nunes, atual secretário de Turismo de Piquete, estuda o inquérito desde 2005 e é autor de uma trilogia de livros sobre o caso. De acordo com os documentos e depoimentos colhidos por ele, a equipe só confirmou o desaparecimento do garoto ao chegar na base do pico na manhã seguinte. “O chefe e os escoteiros ficaram perdidos durante a madrugada toda, mas imaginaram que o Marco Aurélio tivesse pegado o caminho correto. Quando ao chegar ao acampamento, o chefe abre o zíper da barraca, percebe que o garoto não havia chegado. Daí para frente, as buscas se iniciam”.
Osvaldo Machado era um dos escoteiros que participava da excursão e lesionou a perna pouco antes de o grupo se dispersar. Emocionado por voltar ao local em que viveu momentos de apreensão, ele acompanhou as escavações e relatou que era muito próximo de Marco Aurélio, sendo inclusive, a última pessoa do grupo a falar com ele antes do desaparecimento. “Eu espero não encontrar ele aqui. Estamos fazendo um trabalho por fora, de pessoas que têm comprometimento. Vamos continuar procurando por ele” afirmou Osvaldo.