Laudo descarta espancamento em morte de criança em Lorena
Legistas apontam doença infectuosa como principal causa do óbito; mãe e padrasto foram vítimas de tentativa de linchamento após boatos
Lucas Barbosa
Lorena
A delegada da DDM Lorena (Delegacia de Defesa da Mulher), Dra. Adriane Gonçalves, revelou na última sexta-feira que o resultado de um laudo pericial descartou violência doméstica como a causa da morte de um menino de dois anos, ocorrida no fim de janeiro. Após um boato nas redes sociais de que a criança havia sido vítima de espancamento, a mãe do garoto, uma jovem de 17 anos, chegou a ser agredida por um grupo de moradores do Cecap Alta.
De acordo com a delegada, o resultado do laudo médico, revelado na última segunda-feira, atestou que o corpo do pequeno Pedro Lukas Neves não apresentava sinais de agressão ou abuso sexual. O exame também apontou que as duas fraturas apresentadas pela criança, no fêmur e no braço, eram antigas. O legista informou ainda que uma doença infecciosa, possivelmente tuberculose, foi a causa da morte do menino.
Dra. Adriane Gonçalves explicou que a mãe da criança relatou que no último dia 17, o menino amanheceu com febre alta e foi levado à UBS (Unidade Básica de Saúde) do Cecap, onde morava. Diagnosticado com infecção de garganta, ele foi medicado e seu quadro melhorou. Mas quatro dias depois, o garoto passou mal ao tomar um antibiótico, tendo um princípio de convulsão. Encaminhado pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ao Pronto Socorro, Pedro Lukas recebeu soro.
Em um determinado momento, o padrasto do menino foi levá-lo ao banheiro. Em depoimento à Polícia Civil, o homem explicou que segurou o braço da criança com força, já que ela estava com dificuldades para caminhar, quando ele ouviu um barulho no membro em que estava o equipamento que armazena o soro. Preocupado, o padrasto chamou as enfermeiras temendo que o braço tivesse sofrido alguma lesão.
Após a realização de uma radiografia, que constatou fratura no fêmur e braço, a equipe médica acionou o Conselho Tutelar, desconfiando que Pedro Lukas pudesse ter sido vítima de violência doméstica. Enquanto o órgão registrava um boletim de ocorrência, o menino faleceu.
Além das fraturas (sendo a do fêmur crônica), exames apontaram que Pedro Lukas possuía duas más formações cerebrais, que até então eram desconhecidas pela família.
Após um boato nas redes sociais, propagado por páginas de notícias, de que a criança havia morrido em decorrência de um espancamento, um grupo de moradores do Cecap invadiu a casa do casal e arrastou a mãe até a rua, onde foi agredida. Assustado, o casal abandonou o imóvel e desde então segue na casa de parentes em outra cidade.
Além de criticar a postura de portais de notícias e internautas que divulgaram boatos sobre a causa da morte da criança, a delegada revelou que responsáveis pela tentativa de linchamento da mãe da criança poderão responder criminalmente pelo ato. “Foi lamentável a postura de alguns veículos de comunicação e outras pessoas que compartilharam a notícia de que o menino tinha morrido por causa de um espancamento. A atitude irresponsável destas pessoas gerou ainda mais sofrimento à esta família. Caso o casal queira, poderemos abrir outro inquérito para punir os responsáveis pelas agressões feitas contra eles”.