Denúncia de assédio coloca vereador no alvo de investigação policial e da Câmara em Lorena
Estagiária relata abordagens com frases referente ao seu corpo e pedidos de Silvio Rogério; citados começam a ser ouvidos na Seccional de Guaratinguetá
Francisco Assis
Gabriel Mota
Lorena
A denúncia da estudante de jornalismo Ana Carolina Ferreira, 28 anos, de assédio contra o vereador Silvio Rogerio dos Santos (DEM), movimentou a Câmara de Lorena e tomou conta das discussões na cidade. A jovem, que atua como estagiária de comunicação no Legislativo fez um boletim de ocorrência contra o parlamentar e espera também por decisão da comissão de ética sobre o caso. Ao Jornal Atos, ela detalhou a abordagem do acusado.
Carolina trabalha há cinco meses na Câmara, auxiliando a equipe de comunicação. Entre as atribuições, fazer fotos dos vereadores durante os trabalhos. Foi nesta tarefa que, como contou à reportagem, a estagiaria teria começado a ser importunada.
Ela disse que não conhecia o vereador, nem tinha informações dele, mas logo nos primeiros dias de trabalho, teve problemas com Santos. “Desde o começo, quando entrei, ele sempre teve essas, ‘brincadeirinhas’. Nos primeiros momentos, eu ignorava. Eram coisas como ficar falando que eu era muito bonita, esses comentários, que já não são necessários. No segundo mês já começou a querer me oferecer carona. Ficava na porta esperando eu sair, insistentemente, mesmo sabendo que minha mãe vinha me buscar. Essas coisas aumentaram e os termos mudaram. Ele passava do meu lado e falava ‘porque você não senta no meu colo?’”, contou.
A estagiária relatou que, ao abordar o vereador para fazer fotos da sessão, recebia respostas como “só se você me der um beijo”. “Quando eu respondi um ‘o que isso Silvio!’, ele dizia que não ia fazer a foto e virava o rosto. Ou ficava ‘fazendo caras’, ‘fazendo bico’. Chegava a falar para eu sentar no colo dele para fazermos fotos juntos”.
Ainda segundo a versão da jovem, frases como “você é muito gostosa, é muito bonita”, eram ditas em frente a outras pessoas durante as sessões. “Quando estava fazendo as fotos da sessão e ele estava perto, ficava fazendo comentários tipo: ‘nossa que delícia, como sua bunda é linda’. Coisas bem nojentas”.
A estagiária chegou a pedir para um amigo se poderia fazer as fotos do vereador no lugar dela. Ela revelou também que algumas pessoas tentaram defender contra a situação. “Mas tem essa coisa de hierarquia né. Ele é um vereador e a gente só funcionário. As vezes ele passava perto no corredor ou na porta da nossa sala de trabalho e vinha com piadinhas, sorrisinhos”.
Com a situação, Ana Carolina disse que tentou ficar mais afastada, mas ainda enfrentava a abordagem de Silvio Rogério. “Tentava ficar em outro ambiente, ficar longe. Mas teve esse dia (11 de julho) que a coisa ‘transbordou’. Estava parada em uma porta da sala de som, ele parou do meu lado e me chamou para fazer uma foto. Disse ‘vamos fazer uma foto bem juntinho, bem coladinho. Aí eu perdi a estribeira. Disse pra ele ‘cara, me deixa em paz!’ e sai. No que outro vereador viu e perguntou o que estava acontecendo. Eu contei tudo e disse que não aguentava mais. Eles disseram que iam reportar à presidência”, contou. “Não sei o que aconteceu, se alguém falou para o Silvio o que iria acontecer. Ao passar numa catraca, ele veio me abordar. Veio me questionar desde quando ele fazia isso que chama de ‘brincadeirinhas’ e eu disse que era desde quando entrei, que muita gente viu. Aí ele disse, gritando, que era mentira, que era calúnia. Foi quando algumas pessoas me tiraram dali. Depois disso, não vi ele mais”.
A discussão aconteceu nos bastidores da sessão da Câmara daquele dia. Em seguida, a jovem foi à Delegacia de Lorena fazer um boletim de ocorrências. O processo foi encaminhado para a Delegacia Seccional de Guaratinguetá, que tem a atribuição de casos envolvendo agentes políticos.
“As investigações já estão correndo, sem juízo precipitado”, destacou o delegado Francisco Sannini, responsável pelo inquérito. Pessoas citadas no depoimento da jovem começaram a ser ouvidas em Guaratinguetá, nesta sexta-feira (22).
Cobranças – Um grupo composto por mulheres e homens, encabeçado pela Frente Feminista de Lorena e por representantes do Partido dos Trabalhadores em níveis municipal e regional, protestou na Câmara, durante a sessão da última segunda-feira (18).
A coordenadora da Frente Feminista de Lorena, Rosana Moreira, destacou que a principal reivindicação é por um processo esclarecedor. “Quando ocorre um fato dessa natureza, não fere só uma mulher, fere todo um corpo social. Precisamos romper com essa cultura do patriarcado que colocou a mulher nessa condição de objetificação de seus corpos e de suas mentes” protestou Rosana, que chegou a entrar em contato com o presidente da Câmara, Fábio Longuinho (PSD) e a vereadora Wanessa Andrea (Cidadania). “É um fato que teve uma repercussão grande e vai trazer um elemento pedagógico para a sociedade repensar essa abordagem que se faz que muitas vezes fica escondida. A gente espera que o vereador não seja escondido na sala do presidente, que já se posicionou que vai dar todos os encaminhamentos à Comissão de Ética”, afirmou a coordenadora do movimento. “A gente acredita e confia que a Câmara vai fazer o encaminhamento regular, que isso não vai ‘dar em pizza’, porque tem que apurar mesmo e, se houver indício ou ficar comprovado que o fato ocorreu, seguindo os trâmites regulares que haja a cassação desse vereador. Nós não vamos abrir mão”.
O presidente da Câmara revelou que está acompanhando a situação e que foram abertos dois procedimentos. “O primeiro pela própria denunciante, pedindo apuração da Câmara. Outro procedimento, provocado pela Seccional de Guaratinguetá. Vereadores e funcionários serão ouvidos. Agora, politicamente, diante das duas denúncias, dia 18, fiz a comunicação de que encaminhei para a Comissão de Ética. O vereador está trabalhando até que fique comprovado essa situação toda”.
Já o presidente da Comissão de Ética, Bruno Camargo (DEM) aguarda a avaliação dos relatores. O grupo, que também é formado por Adilson Sampaio (PODE) e Fábio Matos (Cidadania), tem 15 dias para apresentar um relatório sobre a denúncia. “Além disso, a gente vai acompanhar o que está sendo feito pela Delegacia Seccional, que vai nos ajudar muito também nesses pareceres”, destacou Camargo.
O vereador acusado foi procurado pela reportagem do Jornal Atos, mas Silvio Rogerio Santos disse que tomará conhecimento dos detalhes do processo antes de se pronunciar. Ele garantiu que é inocente.