Quinta queda em quatro anos leva Guará ao último escalão do futebol

Clube se afunda no cenário esportivo com os dois rebaixamentos deste ano; torcedores e cronistas lamentam destino da Garça

Pauta das principais alegrias do torcedor do Guará, o Dario Rodrigues Leite, já não recebe mais partidas do time, cada vez mais longe do torcedor (Foto: Leandro Oliveira)
Pauta das principais alegrias do torcedor do Guará, o Dario Rodrigues Leite, já não recebe mais partidas do time, cada vez mais longe do torcedor (Foto: Leandro Oliveira)

Leandro Oliveira
Guaratinguetá

O quinto rebaixamento em quatro anos foi consumado e o Guaratinguetá praticamente desapareceu do cenário do futebol nacional. Rebaixado também à última divisão de São Paulo neste ano, o time caiu para o último nível brasileiro, após fazer a pior campanha dentre os vinte clubes da Série C.

Sem investimento no elenco, sem identidade com o torcedor e cada vez mais longe de Guará, a Garça, que um dia pintou o estado de azul, vermelho e branco, vive desde 2013 seus capítulos mais obscuros.

Itinerante no futebol, o Guará se tornou um clube sem casa neste ano. O time disputou a terceira divisão estadual em Limeira e também mandou jogos da Série C na cidade, além de São Paulo e Sertãozinho. A distância entre a equipe e a terra natal, praticamente rompeu os últimos laços entre o time e a torcida. “Hoje não perco mais meu tempo de procurar saber sobre o Guará. O time tem que parar de usar o nome da cidade. Isso só nos faz passar vergonha”, contou André Pereira, ex-torcedor.

De mão em mão, o Guaratinguetá foi perdendo a essência. Do então presidente Israel Vieira, passando pelo empresário proprietário Sony Douer, veio a notícia de que o clube seria repassado. Pedro Panzelli apareceu na cidade como salvador da pátria, montado em uma Harley Davidson, no fim de 2013. Com o intermédio do ex-presidente e fundador do clube, Mário Augusto Nunes, o Marinho, Panzelli assumia como mandatário. O elenco, recheado de jovens e muita esperança, se manteve nas Séries A-2 e C do ano seguinte.

No fim de 2014, o líder sentiu o baque de administrar um clube profissional. Com atraso de pagamentos de funcionários, sem investimento, patrocínios e organização, ele abandonou o barco quando ninguém esperava. Saía de cena Pedro Panzelli, que meses depois seria preso pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro em transações de jogadores de futebol, e entrava em ação João Marcos Rodrigues, autointitulado “Telê”.

Gestor, administrador e técnico, João Telê levantou questões polêmicas e acusações durante sua estada na cidade. Ele proibiu que os atletas dessem entrevistas e somente ele poderia falar sobre os bastidores do clube. Com um grupo formado por jovens e, muitas vezes, de baixa qualidade, a Garça foi rebaixada três vezes em duas temporadas e deixou a cidade no fim do último ano para voar em outros lugares.

Nas rádios da cidade, era comum escutar notícias diárias do time que subia de divisões como um foguete. Entre 2003 e 2009, o Guaratinguetá era exemplo a ser seguido por outros clubes do interior. Modelo de gestão, com pagamentos em dia, organização e resultados dentro de campo. A fórmula do sucesso parecia ter sido escrita de dentro do Ninho da Garça. Hoje, a história é outra. Independente da frequência que o ouvinte sintonize, não se fala mais do clube que carrega o nome da cidade.

“O que eu percebi dessa pessoa (Telê) é uma falta de profissionalismo total. Não tem um pingo de profissionalismo e a mínima condição do seu staff. Eles não tem a mínima condição de gerir um clube de futebol profissional. E principalmente, de tocar um time da grandeza do Guaratinguetá, que merecia uma gestão muito melhor e não de pessoas que não são do meio do futebol e simplesmente recebem uma oportunidade e se acham acima do mal e do bem”, respondeu o cronista esportivo Bruno Leandro Barros.

Na imprensa esportiva regional há 10 anos, o cronista cobriu de perto os bons e maus momentos do clube. Viu o nascimento de um novo time profissional, no fim dos anos 90, transmitiu os acesso à Série A-1 de 2006 e 2010 e também levou aos ouvintes notícias nada agradáveis. Procurado por dezenas de torcedores diariamente há alguns anos, Barros garante que atualmente poucas pessoas perguntam sobre o clube nas ruas. Para ele, o fim definitivo do Guaratinguetá é questão de tempo.

“Desde o rebaixamento da Série A-2, no ano passado, eu já vi que o Guaratinguetá não tinha solução alguma. A única solução que o clube tem hoje, é de alguém tirar o time das mãos desse cara (João Telê)”, sentenciou. “Com as pessoas que comandam o clube hoje, o Guaratinguetá não tem nenhuma possibilidade de atingir novos feitos positivos”, respondeu.

O último jogo do clube que leva o nome da cidade de Guaratinguetá pela Série C é neste domingo, às 11h. Diante da, também rebaixada, Portuguesa, o Tricolor vai encerrar sua temporada novamente com um sabor amargo de rebaixamento e com a incerteza da temporada de 2017.

Procurado para responder sobre o futuro do clube, João Telê disse que o momento atual requer paciência e o elenco de 2017 será o mesmo deste ano. “Temos que tentar manter o time que nós temos para a Série B do Paulista e consequentemente buscar o acesso. Já estamos em contato com alguns profissionais do meio para que eles nos forneçam jogadores competitivos. E daqui para frente é só tentar o acesso”, salientou o gestor.

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