Thálita denuncia Nenê por ataques misóginos após falas machistas na Câmara de Cachoeira
PF abre investigação contra vereador acusado por praticar violência política de gênero com frases como “vai lavar roupa” e “; vereadoras da Casa se dividem sobre caso
Thales Siqueira
Cachoeira Paulista
O debate em torno da violência política de gênero ganhou força nesta semana após a vereadora Thálitha Barboza (PT) revelar que procurou a Polícia Federal, em janeiro deste ano, para denunciar o parlamentar Nenê do São João (PSB) por ataques misóginos. Um inquérito foi aberto, e as testemunhas já estão sendo ouvidas.
Thálita contou que desde do começo do mandato vem sofrendo ataques verbais e violência moral e psicológica de Nenê e acredita que a motivação é o fato dela ser mulher e a parlamentar mais jovem de Cachoeira. “Tiveram tantos episódios que eu já não aguentava mais. Cheguei no meu limite e, conversando com familiares, conclui que o certo seria buscar o poder judiciário para cuidar desse caso”.
A jovem revelou que ouviu diversas falas machistas do vereador, ao longo dos meses, como “seu lugar não é aqui, você devia estar lavando louça, lavando roupa” ou “você não tem maturidade, você é mimada, devia estar na creche, tem comportamento de criança”. Contou também que por diversas vezes ele tentou desmoralizá-la e descredibilizar o seu trabalho ao trazer para a Tribuna fofocas e boatos da sua vida pessoal e íntima justificando que está no direito de fazer isso devido a imunidade parlamentar. A vereadora revelou que chegou a ter crise de pânico durante as sessões após os ataques chegarem aos seus pais. “Teve um episódio que me marcou bastante, que ele me ‘esculachou’, me humilhou’. Falou para que eu aguardasse a próxima sessão, como uma ameaça. Por isso eu acionei o judiciário, porque não é normal o que ele faz”.
Apesar dos apontamentos da vereadora sobre os ataques de misoginia, colegas de Tribuna como Rogéria Lucas (PODE) e Ângela Protetora (MDB) devem prestar depoimento à favor de Nenê nos próximos dias. Já Adriana Vieira (PTB) foi chamada na última quarta-feira (3) para depor como testemunha da petista.
Adriana, que prestou depoimento a favor da colega utilizou as redes sociais para mostrar a sua revolta com a situação. Postou uma selfie na Polícia Federal de Cruzeiro com a legenda “estamos unidas nestes tempos de mudança” e utilizou a hashtag “#mexeucomumamexeucomtodas”, fazendo alusão ao movimento contra o assédio feminino.
Nenê que já prestou o seu depoimento afirmou que todas as acusações que a petista levantou foram em resposta. “Toda ação tem a sua reação. Ela faz essas acusações, mas todas as falas minhas foram reação, porque ela falou uma coisa e eu fui dar a resposta”.
O vereador contou que a chamou de “imatura” após Thalita chamar a Câmara de arcaica e que tinha vereadores arcaicos. Sobre o episódio em que a mandou lavar roupa, Nenê explicou que falou isso, pois Thalita e a mãe fizeram uma postagem nas redes sociais afirmando que duas professoras da rede municipal (Érica e Gleice) tinham ido fazer farra em Brasília com dinheiro público. As duas profissionais também devem ser chamadas para depor a favor do parlamentar.
“As professoras tinham ido com o dinheiro delas. Eu peguei e falei para a vereadora ‘ao invés de você ficar tomando conta da vida das professoras, você tem que procurar fazer alguma coisa, vai lavar roupa!’, ‘vai fazer alguma coisa dentro de casa e parar de tomar conta da vida dos outros’”.
O vereador disse que a denúncia só foi feita após a processante que teve contra a Thálitha, e acredita que a mesma ficou com raiva pelo fato dele ter votado a favor da processante para cassar o mandato dela. Ainda disse que nunca houve essa questão de violência política de gênero.
“No meu depoimento eu falei que eles podem ir na Câmara e perguntar para todas as mulheres assessoras, para as funcionárias que tem lá, se algum dia eu fiz algum maltrato para elas, algum desrespeito em questão de gênero. Nunca houve”.
A equipe do Jornal Atos entrou em contato com o presidente da Câmara, Léo Fênix (PSB). “Todas as agressões foram cessadas, caso elas tenham existido, pois quem determina se houve ou não é o poder judiciário. Eu não tenho essa competência para julgar. Quando um ou outro se exaltam, eu intervenho e a sessão volta a correr normalmente. O respeito está sendo mantido”.