Atos e Fatos
“A qualidade essencial para a liderança não é a perfeição, mas a credibilidade.”
Rick Warren
Márcio Meirelles
ENTRE GOLPES E DISCURSOS VAZIOS
A Avenida Paulista foi palco de mais um capítulo da polarização política brasileira no dia 25 de fevereiro.
Controvérsias à parte sobre o número de pessoas na Avenida Paulista foi um movimento popular parecido com o de 2013.
O ato patrocinado por apoiadores de Jair Bolsonaro reuniu milhares de pessoas em um misto de nostalgia, apreensão, ou de antipetismo?
O ex-presidente, em discurso contido, reconheceu o golpe de 8 de janeiro e clamou por anistia aos presos pelos atos golpistas, onde confirma o seu total conhecimento e envolvimento com o movimento golpista.
A figura de Jair Bolsonaro desafia categorizações simplistas.
Seus seguidores o exaltam como líder de direita, defensor da liberdade e da tradição.
Seus críticos o veem como um demagogo populista, um aventureiro irresponsável que flerta com o autoritarismo.
Do outro lado do espectro político, Luiz Inácio Lula da Silva também se distancia de rótulos tradicionais.
O ex-presidente, ícone da esquerda brasileira, demonstra dificuldade em discernir política interna de geopolítica, confundindo agendas e prioridades.
Interessante notar a comparação entre as falas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Lula quando da sua prisão.
Há uma certa convergência na ideia de que ambos transcendem a individualidade e assumem uma dimensão simbólica.
No caso de Bolsonaro, a comparação como “representação de um movimento” – família, pátria e liberdade – pode ser interpretada por uma ideia política autoritária que destruiu uma nação.
Por um lado, pode ser vista como uma forma de destacar seu poder e influência, sugerindo que ele representa algo maior do que si mesmo, ainda, pode ser visto como uma crítica à sua personalidade messiânica e à sua postura autoritária.
Já a afirmação de Lula de se transformar em uma “ideia”, no momento de sua prisão em 2018, pode ser interpretada como uma forma de negar sua própria mortalidade e de garantir a perpetuação de seus ideais. É uma forma de se colocar como um símbolo da luta por justiça social e igualdade, transcendendo sua própria figura humana.
A polarização extrema impede o debate civilizado e coloca em risco a democracia.
A radicalização de ambos os lados impede o diálogo construtivo e a busca de soluções para os problemas do país.
Embora existam diferenças ideológicas significativas entre os dois líderes, é possível identificar algumas semelhanças em termos de sua percepção pública.
Ambos são figuras polarizadoras que despertam paixões e ódios. Ambos construíram uma imagem de si mesmos como líderes fortes e inabaláveis. E ambos, de certa forma, transcenderam a individualidade e se tornaram símbolos de seus respectivos movimentos políticos.
No entanto, é importante ressaltar que essa comparação não deve ser levada ao extremo.
As diferenças entre Bolsonaro e Lula são muitas e importantes. Bolsonaro representa a extrema-direita, com suas posições autoritárias e antidemocráticas.
Lula, por outro lado, representa a esquerda democrática, com seus ideais de justiça social e igualdade.
Repetindo: a polarização extrema impede o debate civilizado e coloca em risco a democracia.
A radicalização de ambos os lados impede o diálogo construtivo e a busca de soluções para os problemas do país.
O jurista italiano Noberto Bobbio, ao afirmar que a esquerda e a direita não morreram, alertou para a importância de manter viva a dialética entre diferentes correntes de pensamento.
No Brasil, a polarização impede essa dialética, criando um ambiente propício para o extremismo.
Pontos importantes a serem considerados: as falas de Bolsonaro e Lula foram feitas em momentos históricos em conjunturas políticas e sociais diferentes; importante analisar a intenção por trás de cada fala para entender seu significado completo; a percepção pública de Bolsonaro e Lula é complexa e individual e se tornam símbolos de seus respectivos movimentos políticos.
Bolsonaro e Lula, em suas diferentes nuances, não representam à altura os anseios da sociedade brasileira.
O país precisa de líderes capazes de dialogar, construir pontes e apresentar soluções reais para os desafios do presente.
A polarização, alimentada por ambos os lados, é um obstáculo à democracia e ao desenvolvimento do Brasil.
O legado de cada líder ainda está sendo escrito.