Atos e Fatos

“Investir em conhecimento rende sempre os melhores juros.”

Benjamin Franklin

Banco Central do Brasil; Professor Márcio Meirelles comenta sobre a taxa Selic (Foto: Reprodução EBC)

Professor Márcio Meirelles

POLÍTICOS E A TAXA SELIC

À primeira vista, parece que o presidente do Banco Central está conseguindo empatar o jogo com os políticos sobre a taxa SELIC.

O interessante é que o governo se rebela com a taxa de juros como se não tivesse nenhuma experiência sobre o tema.

Vamos aos fatos.

Nos oito anos do governo Lula 1 e 2, o Banco Central, conduzido de modo autônomo e independente por Henrique Meirelles, filiado ao PSDB, muitas vezes, contrário as posições do Ministério da Fazenda, efetuou quatro rodadas de elevação nominal dos juros.

Fato de difícil entendimento diante da plataforma política do PT na campanha de 2002.

Em 2003, a taxa SELIC foi aumentada de 25% para 26,5%; em setembro de 2004 e maio de 2005 ela passou de 16 % para 19,75%; entre abril e setembro de 2008, de 11,25% para 13,75% e finalmente entre abril e julho de 2010, afastada a crise americana de 2009, 8,75% para 10.75%.

A diferença do ambiente atual para este período é que a relação Dívida Pública/PIB era de 54,6% chegou a 38% em 2010 (efeito da herança maldita).

No quinquênio 2004-2008 a taxa média de crescimento do PIB foi de 4,8%, mas na média dos oitos anos, 2003-2010, ficou em 4%.

Com o arcabouço fiscal proposto pelo governo, caso consiga aumentar a receita (?), poderá chegar próximo de 90% em 2026!

Não é a taxa SELIC a causa da crise do crédito na economia, mas a dívida pública.

Enquanto os parlamentares se negam a fazer a lição de casa – diminuir o tamanho do Estado, reforma tributária, reforma trabalhista, reforma política, questões de infraestrutura, o Banco Central e o sistema financeiro serão os responsáveis pelo não crescimento do país.

O país não crescerá no quadriênio 2023-2026, em média, ao redor de 1,5%(?).

Voltando a taxa SELIC.

Será que a sociedade e parlamentares. entendem como é elaborada a taxa SELIC?

Pelas últimas bizarrices do parlamento brasileiro nem eles sabem, diante da paciência do presidente do Banco Central: a taxa de juros é técnica!

O Banco Central, na sua função de responsável pela moeda do país, como instrumento de contenção da inflação, limita a aplicação financeira dos bancos obrigando-os a “congelarem” parte de seus depósitos, de acordo com a incidência da inflação.

Este congelamento é diário e varia de acordo com a pressão inflacionária de 20% até, em momentos críticos, 40%.

Como os bancos têm a missão de circular a moeda e atender o mercado, socorre-se do Sistema Interbancário, controlado pelo Banco Central, o DEMAB, situado no Rio de Janeiro, onde o banco superavitário empresta para o banco deficitário.

A taxa de financiamento no mercado interbancário para a operação, de um dia (overnight), com o lastro (garantia) títulos públicos federais.

A taxa média, de curtíssimo prazo, que regula as operações interbancárias reflete o custo do dinheiro para empréstimos bancários, com base na remuneração dos títulos públicos.

Esta taxa não é fixa e varia praticamente todos os dias, mas dentro de um intervalo muito pequeno, pois na grande maioria tende a se aproximar da taxa SELIC calculada com base nestas movimentações.

Depois do fechamento deste mercado, o DEMAB calcula a taxa média ponderada pelo volume dos negócios realizados naquele dia através de uma fórmula matemática. Esta taxa é publicada diariamente às 20h00 do mesmo dia, a “taxa básica”, inferior ou igual a taxa SELIC fixada pelo Banco Central.

Portanto, alterar a taxa SELIC, como quer o governo, políticos e operários, é contrariar uma dinâmica do mercado que retrata: a inflação, a atividade econômica, cenário externo e contas públicas.

A inflação em alta pressiona a taxa básica o Banco Central sobe a taxa e no alívio da pressão inflacionária reduz a taxa.

O problema da taxa de juros alta reside nos abusivos gastos públicos.

A marcha para o desastre do déficit público começou nos anos 1980, piorou com a Constituição e descambou no governo PT.

A culpa é única e exclusiva do partido do presidente com o apoio irrestrito da classe política.

Enquanto governo, parlamento, insistem em desconhecer o conceito básico de “restrição orçamentária” onde os gastos não podem exceder a receita e a capacidade de endividamento a culpa será sempre do Banco Central. Bingo! Dinheiro não é eterno!

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