Ubatuba e guaranis protestam contra municipalização da saúde indígena

Sato se reúne com representantes de aldeias; proposta federal revolta etnias em todo o País

Ao lado de lideranças indígenas, o prefeito de Ubatuba, Délcio Sato participa de reunião que debateu proposta do governo federal sobre saúde (Foto: Divulgação PMU)
Ao lado de lideranças indígenas, o prefeito Délcio Sato participa de reunião que debateu proposta do governo federal sobre saúde (Foto: Divulgação PMU)

Lucas Barbosa
Ubatuba

Após o Governo Federal revelar que estuda tornar os municípios responsáveis pelo atendimento total de saúde à população indígena, diversas tribos realizaram manifestações por todo o País na última semana, protestando contra o possível fim da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Unindo forças para que a medida não ocorra, representantes de três aldeias de Ubatuba e o prefeito Délcio Sato (PSD) encaminharão na próxima semana um ofício ao Ministério da Saúde.

Na manhã da última quarta-feira, cerca de oitenta indígenas da etnia guarani participaram de um encontro com Sato e a secretária de Saúde, Dilei de Brito, no auditório do Teatro Municipal, com a presença de representantes das aldeias Boa Vista, Renascer e Rio Bonito.
Na ocasião, os indígenas ressaltaram sua insatisfação com a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro (PSL) promover a municipalização dos serviços de saúde a indígenas, que atualmente são atendidos de forma diferenciada pela Sesai.

Na cidade litorânea, o órgão federal disponibiliza médicos e dentistas que atendem semanalmente cerca de 250 guaranis, não sendo necessário que eles se desloquem até a zona urbana.

Para um dos representantes dos guaranis de Ubatuba, Marcos Tupã, a possível mudança significará mais um ataque aos direitos indígenas no Brasil. “Somos humilhados, perseguidos e discriminados. As equipes de saúde que atuam nas aldeias estão na luta, atendendo nossas comunidades sem receber salário. Pedimos o apoio e posicionamento do município em defesa de nosso direito, contra a municipalização que o Governo Federal está impondo”.

Para a secretária de Saúde, além de afetar o cotidiano dos indígenas, a   proposta federal resultará em uma sobrecarga das redes municipais de saúde  do País. “É notório que os indígenas sentem que correm o risco de   perderem mais um direito conquistado, o que naturalmente causa uma grande revolta. Realizamos alguns atendimentos a este público em nossas unidades, mas a atuação da equipe médica do Sesai é fundamental. Assim como as demais cidades, não temos recursos para realizar este atendimento diferenciado nas tribos”.

Além de ressaltar que a Prefeitura está engajada ao lado dos guaranis contra a mudança, Dilei apontou os principais frutos da reunião. “O prefeito determinou o encaminhamento de um ofício à União e ao Ministério da Saúde contra a municipalização. Ele também se colocou à disposição para contribuir com os indígenas nesta luta tão importante. Também prestaremos qualquer assessoria necessária aos guaranis, já que eles pretendem levar um oficio ao Ministério Público Federal”.

Após se reunirem com os membros do Executivo, os guaranis realizaram uma manifestação pacífica, utilizando cartazes com frases de protesto, em frente ao Teatro Municipal, na última quarta-feira.

No último dia 27 cerca de vinte indígenas de Ubatuba interditaram por três horas a rodovia Rio-Santos, próximo ao bairro Prumirim. A ação fez parte de uma mobilização nacional realizada por tribos indígenas contra o projeto do Ministério da Saúde.
Na última semana também foram realizados protestos semelhantes, com o bloqueio de rodovias em cidades de Alagoas, Bahia, Minas Gerais e Roraima.

 

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