Mulher protesta contra procedimento na morte da mãe em Pinda
Idosa teria sido transferida para a UTI de enfrentamento ao novo coronavírus, mesmo sem apresentar sintomas; caso recebeu resultado negativo para Covid-19 dias depois
Bruna Silva
Pindamonhangaba
Não são poucas as histórias de lutas contra o novo coronavírus. Mas paralelo a isso, também não são raras as discussões com apontamento de falhas no atendimento e equívocos em diagnósticos. Em Pindamonhangaba, a morte de uma mulher de 72 anos gerou protestos da família, após ela ser transferida para a Unidade de Terapia Intensiva Covid-19, sem registro de caso suspeito.
Araci Finessi Lisboa foi atendida na emergência do Pronto Socorro Municipal, no último dia 11. De acordo com a vendedoira Renata Finessi Lisboa, de 43 anos, filha de Araci, sua mãe buscou o PS para o atendimento de ataque isquêmico transitório suspeito, também conhecido como mini-AVC.
A alta veio no dia seguinte. “Levei novamente para a emergência a pedido do médico, que veio aqui em casa vê-la, pois estava com febre, no dia 16. Ela foi para UTI Covid-19. No dia 17 de abril, às 17h, me ligaram avisando que já estava lá. A partir daí já não pude vê-la, já estava entubada e sedada”, contou.
Segundo a filha, apesar do Pronto Socorro afirmar por um meio de um documento que Araci não configurava um caso suspeito de novo coronavírus, a paciente foi transferida para a ala de combate à doença, na Santa Casa de Misericórdia, local que ficou internada e faleceu no último dia 5, por sepsemia e pneumonia.
Renata recordou que foram diversos esforços para que pudesse ver a mãe, mas a resposta dos profissionais de saúde era de que estavam obedecendo o protocolo. Embora o teste de Araci tenha dado negativo para Covid-19, ela não poderia entrar no ambiente devido aos outros pacientes confirmados que estavam no local. A filha destacou que se propôs a comprar o EPI (equipamento de proteção individual) para que pudesse “se despedir da mãe”, mas o pedido foi negado. Renata disse ainda que havia uma movimentação contrária à realização do velório. “Fiz o velório depois de muita briga com as duas enfermeiras chefes”.
A secretária adjunta de Saúde, Mariana Prado Freire, afirmou que quando Araci deu entrada ao PS ela tinha febre, infiltrado pulmonar (pulmão cheio), caracterizando dois sintomas da Covid-19. “Neste momento de pandemia tem que ter muito cuidado ao descartar casos suspeitos”, enfatizou.
Mariana Prado explicou que a mãe permaneceu na ala especial devido ao seu estado de saúde que era crítico e impossibilitava movimentações, apesar de ter sido cogitada a possibilidade para transferi-la para UTI comum. Segundo a pasta, o diagnóstico chegou após a internação e devido ao contato com outras pessoas havia alto risco de contaminação.
O critério de isolamento de pacientes contaminados tem sido rígido, no município, sendo “o lado mais cruel dessa pandemia”, como relatou Mariana. A administração municipal conta ainda com uma médica pneumologista que faz a coordenação técnica da assistência na pandemia e colocou à disposição de familiares atendimento psicológico. A pasta ressaltou ainda que as medidas adotadas são baseadas em protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde e Organização Municipal da Saúde tendo em vista a garantia da saúde coletiva e minimização do contágio.