De saída do ninho tucano, Marcondes não poupa críticas ao PSDB
Para prefeito lorenense, projeto Dória deve aumentar o êxodo no partido; apoio a França ganha força
Da Redação
Lorena
A crise interna no PSDB, que se viu dividida com a discussão de caciques e candidatos nas eleições, já faz os primeiros estragos nos diretórios regionais. Com papel de destaque na política regional, o prefeito de Lorena, Fábio Marcondes, anunciou na tarde da última quarta-feira sua saída do partido e, de quebra, o apoio ao candidato do PSB ao Estado, Márcio França, que disputa o cargo no segundo turno contra o tucano João Dória.
Marcondes não escondeu o descontentamento com a falta de atenção do PSDB com a região, e ainda com a forma de atuar de Dória, apontado como motivador do racha na sigla.
A aproximação de França com os prefeitos do Vale do Paraíba desde abril, quando assumiu o governo no lugar do presidenciável Geraldo Alkmin (PSDB), e a expectativa de aceleração nos repasses em áreas prioritárias como saúde e segurança pública, levou o prefeito lorenense a anunciar a saída do ninho tucano.
Em entrevista ao Jornal Atos, Marcondes avaliou a atual situação do partido e o que espera a partir de janeiro do próximo ano, com a nova composição em São Paulo e Brasília.
Confira a entrevista com o prefeito em áudio e texto
Jornal Atos – O senhor definiu, em meio a um processo eleitoral, a saída do partido. Quanto os problemas do PSDB e a eleição em São Paulo e Brasília afetaram a essa decisão?
Fábio Marcondes – Bom, essa decisão vem em um descontentamento partidário já durante a administração no Governo do Estado. Não resta dúvida, eu sempre fui um crítico nos meus posicionamentos no seu programa, no jornal de vocês em questão de saúde, segurança, uma série de situações. Havia essa insatisfação até com relação a espaço no partido. Não buscava nenhum espaço pra mim, mas o espaço para o município de Lorena. Outra insatisfação que é mais notória, é a respeito do candidato do partido ao Governo do Estado de São Paulo. Eu não vejo ele como um partidário, vejo ele como uma pessoa que tem um projeto pessoal na política e não um projeto partidário. Estava muito incomodado por causa da relação que eu construí nesses seis meses com o atual governador, o Márcio França. Relação de atendimentos, ouvir a posição da cidade perante a saúde do Vale do Paraíba, problema de infraestrutura, de outras situações. Na Santa Casa mesmo ele foi bastante aberto para me mostrar, e expor algumas intervenções sobre um pedido meu. Me incomodou muito, eu estar no PSDB e achando que para o Estado de São Paulo o melhor candidato, pensando como cidadão, como eleitor e como prefeito da cidade, seria o Marcio França. Então eu tomei essa decisão. Nunca faria de apoiar um governador se eu estivesse em outro partido, então não tive saída e precisava tomar essa decisão, sair do partido, para poder apoiar o governador e candidato à reeleição.
Atos – Nesse período houve uma conversa com diretório do partido? O senhor levou esse descontentamento, essa posição à lideranças?
Marcondes – Não. Eu conversei isso com o deputado Eduardo Cury, Samuel Moreira, o Tchesco, que também deixou o partido. É notório, nós não estamos aqui para conspirar, eu não estou aqui pra falar mal do adversário do meu candidato, e sim para falar bem do meu candidato. Tive essa comunicação informal com essas pessoas, e o diretório de Lorena, com o Marcos Salles (presidente do PSDB), sabendo da possibilidade da minha saída. Não tive que dar muita satisfação, porque nunca tive muito acesso ao partido, então foi mais para as pessoas ligadas a mim, a quem comuniquei até antes do primeiro turno da possibilidade deu sair.
Atos – O senhor lembrou que era crítico ao próprio partido no governo de Geraldo Alckmin. A partir de abril, essa aproximação partiu do Márcio França, partiu dele?
Marcondes – Essa aproximação iniciou-se ainda com ele ainda vice-governador, na eminência de assumir em abril. Visitei ele no Palácio dos Bandeirantes, tive duas reuniões expondo as situações, coisas importantes, as necessidades das cidades, problema da segurança, problemas na DRS que eu sempre pautei. Houve reciprocidade, houve mais diálogo. O mais importante do governador é ouvir os prefeitos, e isso faltou muito anteriormente, ouvir e resolver. Então isso me gerou essa simpatia, essa confiança de mantemos uma pessoa ligada ao interior.
Atos – O senhor participou de um evento em prol a Márcio França, que estava alinhado à cúpula do PSB. O senhor tem uma coisa já alinhada em questão partidária?
Marcondes – Não. Eu acho que a súmula do TSE permite que o Executivo, sendo prefeito, governador ou presidente da República, exercer o mandato sem (partido). Vamos aguardar o segundo turno, aguardar a eleição presidencial também pra se medir as forças, como estarão o Congresso, a situação no Estado de São Paulo. Tenho uma boa relação com o PSDB, eles estão na base do mesmo jeito, não houve cisão nenhuma com o diretório municipal ou os vereadores que hoje temos na base. O Marquinhos (Ramos), Vandinho, souberam da minha situação, mantiveram apoio normalmente e eu não estou preocupado. Acho que vai haver uma acomodação da nova política, de novas lideranças e de novas forças partidárias. Haverá com certeza uma reacomodação, principalmente pela deterioração de alguns partidos, que saíram derrotados. O PSDB é um exemplo muito grande. Na minha opinião, o PSDB não se sustenta a nível nacional com esse tipo de política que foi feita interna, política dos caciques, de não ouvir as bases. Acho que o maior ferido nessa eleição é o PSDB. Então nós vamos aguardar, sem oportunismo nenhum, até porque política se faz com grupos, então com certeza muitos psdbistas irão sair do partido, se recolocar pela cisão que essa candidatura ao governo do Estado (de João Dória) gerou no próprio partido, até com acusações de traição.
Atos – Neste novo panorama, como a eleição do último dia 7 e a próxima do dia 28 reflete na região? Como ficam as discussões sobre demandas como saúde, empregos, segurança, busca de verbas? As conversas começam do zero
Marcondes – Pela renovação do Congresso, temos que buscar novos aliados, não resta dúvida. Com certeza haverá aproximação, com esses novos deputados também buscando espaço no meio dos 645 municípios do Estado de São Paulo. Nós estamos de portas abertas. Haverá fato novo, haverá líderes surgindo, pessoas em um domínio de uma região ou outra, grupos políticos participando disso, isso é salutar. Eu acho que a renovação foi fundamental não pelas pessoas, mas pelo quadro político do País. É o fim da Nova República de Tancredo Neves, que o Sarney assumiu. É um ciclo de 33 anos se encerrando, e iniciando o retorno, na minha opinião, dos saudosistas e dos herdeiros da antiga Arena, da ditadura.
Atos – O Vale do Paraíba teve dois deputados estaduais e dois federais eleitos. O que faltou para o Vale do Paraíba ter outros representantes na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal? Faltou candidatos entenderem melhor a região e suas necessidade?
Marcondes – Eu vou dar o exemplo por Lorena, na questão do Totô (Roberto Bastos-Pros). O que faltou foi estrutura de campanha pra levar a mensagem. Esses votos (o candidato teve mais de dez mil votos em Lorena) foram mais ligado ao próprio Totô do que qualquer apoio político, influência, relação política, isso não resta dúvida. Existe um efeito que poucas pessoas estão notando. Quando abriu a urna na cidade de Lorena, da totalidade de 41 mil votos, o Toto ficou com 22,5%, a deputada Janaina Paschoal (PSL) ficou com quase 15%, e em terceiro lugar quem ficou foi o número 17, o voto de legenda. Aí está o problema que nossos deputados de São José e Taubaté não se reelegeram, foi esse “efeito Bolsonaro”, não resta dúvida, porque se votou no Bolsonaro pra presidente, pra deputado, pra senador, só não votou para o Estado de São Paulo para governador, então houve o descarregamento no número 17 direto. Isso mudou todo o quadro político. Para se ter outro exemplo, para deputado federal, os votos na legenda 17 em Lorena foram 27%, então é muita coisa. Isso mudou o quadro das eleições.