Sem condições de atendimento, Cruzeiro ganha prazo para quitar dívida e devolver Santa Casa

Com 11 meses, intervenção municipal não conseguiu amenizar crise no atendimento; debito em repasse chega a R$ 4 milhões

Familiares de pacientes durante horário de visita no hospital, que segue com atendimento emergencial (Foto: Maria Fernanda Rezende)
Familiares de pacientes durante horário de visita no hospital, que segue com atendimento emergencial (Foto: Maria Fernanda Rezende)

Estéfani Braz
Maria Fernanda Rezende
Cruzeiro

Uma reunião realizada na última quinta-feira, em Cruzeiro, apresentou a solicitação para o fim da intervenção da Prefeitura na Santa Casa da cidade. Sem sucesso na proposta de salvar o hospital da crise, que cerca o atendimento há anos, o Executivo ganhou um prazo para encaminhar um cronograma de ajustes das dívidas com a entidade.

A administração municipal teria se comprometido a elaborar um projeto pedindo autorização para o parcelamento da pendencia do município, que chegou aos R$ 4 milhões.

O compromisso foi firmado no encontro entre a prefeita Ana Karin de Almeida (PRB), o deputado estadual Padre Afonso Lobato (PV), secretários, membros da Irmandade de Misericórdia e vereadores.

De acordo com Lobato, a intervenção pode ser encerrada em trinta dias. “Eu falava com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), exatamente na necessidade de investimento na Santa Casa de Cruzeiro. Então, já está bem encaminhado. Quando a Prefeitura devolver a Santa Casa à irmandade as coisas começam a se ajustar, porque a Prefeitura não fez o repasse à Santa Casa para pagar o contrato do Pronto Socorro e depois fez a intervenção, daí complicou mais a situação”, contou.

A Prefeitura deve elaborar um projeto de Lei para enviar à Câmara solicitando autorização para o parcelamento da dívida. A Santa Casa só estará apta a receber recursos se estiver em dia com as contas.

Durante passagem por Lorena, onde entregou o AME (leia texto nesta página), Alckmin afirmou que o Estado também negocia com a prefeita Ana Karin a desintervenção da Santa Casa. “Eu acho que esse é o melhor caminho. Talvez, devolvendo para a Santa Casa, e nós, sim, vamos ajudar”.

A intervenção foi colocada em prática em agosto de 2015, durante o período em que Rafic Simão (PMDB) ocupou a Prefeitura, substituindo Ana Karin, que voltou ao cargo em outubro.

A medida, de acordo com Simão, foi tomada para amenizar a crise no atendimento do hospital, então gerido pela Diocese de Lorena. Mas 11 meses depois, a condição do atendimento continua irregular.

Há quase três meses, a entidade vem atendendo apenas urgência ou emergência e continua com o Pronto Socorro fechado. Os familiares que acompanham os pacientes internados, se queixam das carências do hospital.

“Não tem luva nem para examinarem os pacientes. Medicamento, a gente acabou de mandar comprar, estão colocando só soro”, contou uma idosa que saia do hospital após visitar uma parente internada.

A situação não é incomum no dia a dia da Santa Casa. No início do ano, um grupo de funcionário relatou à reportagem do Jornal Atos a falta de material básico para o atendimento. Até mesmo papel higiênico estava em falta.

“Alguma coisa que falta, a gente compra e traz. Para quem tem possibilidade, se a família tem recurso, eles pedem mesmo”, revelou outra parente de internado na Santa Casa.

Procurado pela reportagem do Jornal Atos no último sábado, quando acompanhou Ana Karin na visita de Alckmin a Lorena, o secretário de Saúde de Cruzeiro Wagner Streitenberger negou que o município teria que colocar fim à intervenção. Mas menos de 72 horas depois, em entrevista à Rádio Aparecida, o secretário acabou confirmando a decisão pela desintervenção.

Ele disse à emissora católica que a proposta agradaria não só a irmandade como a própria Prefeitura. Streitenberger falou também da proposta de estadualização do atendimento na Santa Casa. “É uma proposta, mas ainda não tem conversa neste sentido”.

O hospital faz parte de um plano do governo estadual para a implantação de um atendimento regional, que incluiria ainda as Santas Casas de Lorena, Guaratinguetá e Aparecida. A expectativa é de que a dívida de R$ 4 milhões da Prefeitura de Cruzeiro com a entidade seja quitada ainda neste mandato.

Compartilhar é se importar!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

× Como posso te ajudar?