Mesmo sem maternidade em Cachoeira, Câmara critica atendimento em Lorena
Sem citar falhas na rede pública cachoeirense, vereadores afirmam que gestantes são “maltratadas” na Santa Casa da cidade vizinha; referência, entidade não recebe reclamação oficial da Prefeitura
Lucas Barbosa
Cachoeira Paulista
Com baixa participação popular, a última sessão da Câmara de Cachoeira Paulista foi marcada pelas duras críticas feitas por parte dos vereadores ao atendimento oferecido às gestantes da cidade na Santa Casa de Misericórdia de Lorena. Como Cachoeira não conta com o serviço de maternidade há quase quatro anos, as pacientes são atendidas no município vizinho graças a um convênio firmado entre o Estado e o hospital no início de 2017.
A primeira matéria analisada pelos parlamentares na última terça-feira foi o pedido das comissões de Justiça e Redação e de Saúde e Assistência Social para que fossem alterados os três primeiros artigos do projeto de lei apresentado anteriormente pelo vereador José Carlos da Silva, o Carlinhos da Saúde (PSD), que cria políticas públicas para o atendimento de gestantes durante o pré-natal. Com as modificações aprovadas por unanimidade, a Prefeitura foi autorizada a contratar médicos obstetras para acompanharem o pré-natal nas unidades de ESF (Estratégia de Saúde da Família). Na sequência, o projeto do parlamentar também foi aprovado.
Minutos depois, Carlinhos foi à tribuna e disparou críticas à Santa Casa de Lorena, em relação ao atendimento de gestantes de Cachoeira. Os principais apontamentos se concentraram no fato das pacientes terem que retornar diversas vezes à unidade já que supostamente os médicos as liberam antes de concluir o atendimento da forma adequada. “As nossas gestantes estão sendo massacradas naquela Santa Casa de Lorena”, atacou.
Além de frisar que as grávidas cachoeirenses são “maltratadas e desprezadas” na cidade vizinha, o vereador Maximilio de Barros, o Max (DEM), prometeu na tribuna levar o caso ao Ministério Público caso as queixas persistam. “Não estão dando um atendimento digno às nossas gestantes em Lorena. É uma falta de respeito fazerem isso, já que está pagando o convênio em dia e muito bem. Se começar esta ‘patifaria’ (sic) e Lorena não der um atendimento digno, vamos denunciar isso no Ministério Público”.
O último parlamentar a criticar a entidade foi Dimas Barbosa (PTB), que também cobrou uma maior estrutura nas unidades de saúde de Cachoeira para o atendimento das mães e recém-nascidos.
A reportagem do Jornal Atos solicitou um posicionamento da Prefeitura de Cachoeira sobre o caso, mas nenhuma resposta foi encaminhada até o fechamento desta edição.
Já a Prefeitura de Lorena, cogestora do hospital, afirmou que não recebeu nenhuma reclamação de Cachoeira Paulista sobre o serviço prestado.
Outro lado – Em nota oficial, a Santa Casa de Lorena também informou que não foi procurada pela Prefeitura de Cachoeira. O hospital ressaltou que o convênio firmado junto à secretaria da Saúde do Estado, com a transferência de recursos provenientes do Ministério da Saúde, se refere exclusivamente à retaguarda de partos das gestantes. Já o acompanhamento do pré-natal e exames complementares cabem ao próprio Município (Cachoeira) oferecê-los em sua rede ambulatorial.
A nota frisou que a entidade não vem medindo esforços para proporcionar um atendimento com excelência à população “mas se é da vontade deste Legislativo podemos procurar a Regional de Saúde e cancelar tal convênio, ficando a cargo do próprio Município a procura de um novo prestador para realização do serviço”.
O hospital garantiu que não possui nenhum convênio direto com Cachoeira, mas sim com o Estado.
Histórico – O ex-prefeito de Cachoeira, João Luiz Ramos (PSB), celebrou em 2013 um contrato particular, de R$ 25 mil mensais, com a Santa Casa de Lorena, para o atendimento de gestantes e recém-nascidos. A medida ocorreu após a interdição do setor de maternidade da Santa Casa de Cachoeira, que de acordo com uma vistoria do Departamento Regional de Saúde estava sem condições de funcionar.
Uma reunião em abril de 2017 na DRS (Diretoria Regional de Saúde), em Taubaté, definiu que o Município não precisaria manter o contrato particular com o hospital de Lorena, já que a secretaria de Estado da Saúde será a responsável pelo investimento mensal de R$ 20 mil.
De acordo com a DRS, a medida será mantida até a reativação da maternidade da Santa Casa de Cachoeira Paulista, que segue até hoje sem previsão de funcionamento.