Vacinação antirrábica vira caso de Polícia com confronto entre vereador e a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Aparecida

Na delegacia, parlamentar e responsável por campanha trocam acusações que começaram por meio de lives nas redes sociais; caso é investigado

Viatura da Guarda Municipal, que levou o vereador André Monteiro para depoimento a delegacia de Aparecida (Foto: Marcelo A. dos Santos)

Marcelo Augusto dos Santos
Aparecida

A vacinação antirrábica Aparecida foi paralisada na última quarta-feira (26), após uma confusão entre o vereador André Luís Monteiro, o Padrinho (Patriota) e a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Deise da Silva. A motivação foi um protesto de uma mulher, que havia pedido pela vacinação. Um boletim de ocorrência contra o parlamentar por injúria e difamação foi aberto.

Há cerca de quatro anos sem disponibilizar os imunizantes para os cães e gatos, a Prefeitura foi contemplada com trezentas doses e, segundo a programação, atenderia os bairros São Francisco na quarta-feira (26), Sagrada Face na quinta-feira (27) e Santa Rita na sexta-feira (28) das 9h às 12h. Mas o cronograma foi alterado. Os profissionais deixaram o primeiro bairro antes do previsto. Com isso, duas mulheres não conseguiram imunizar seus animais e entraram em contato com Monteiro, que foi até o local e iniciou uma live (transmissão ao vivo) na sua conta no Facebook. O vídeo tem 34 minutos de duração. Durante a transmissão, uma das reclamantes abordou a responsável pela ação, e a questionou se poderia levar uma dose ou se alguém poderia ir até a casa dela e aplicar a vacina. Ela foi informada que isso não seria possível.

Na mesma hora, o presidente da Câmara, Luís Fernando de Castro Rocha, o Gu Castro (PSDB), passava pelo local e parou, após um pedido de Monteiro.

O chefe do Legislativo conversou com a mulher e também informou que não poderia atendê-la, pois, os protocolos sanitários não permitiam isso.

Indignada, a senhora começou a reivindicar a vacina e informou que iria acionar a Polícia Militar. No decorrer da situação, Gu Castro também iniciou uma live sobre a situação. “Esse vereador aqui (André Monteiro), que não tem nada a ver com isso, apareceu aqui no bairro agora (São Francisco), fazendo tumulto na vacinação”, afirmou o presidente da Câmara de Aparecida.

Em outro trecho da live de Monteiro, a senhora é acolhida pelos agentes de saúde após passar mal. Na filmagem, a coordenadora da Vigilância Epidemiológica, Deise da Silva, aparece conversando com a mulher, mas como estava longe do parlamentar não foi possível escutar o diálogo. Monteiro questionou a coordenadora. “O Deise! Para de fazer juízo de valores sobre o meu mandato, pois é vergonhoso tudo isso que está fazendo. Já não basta aquilo que você inventou na delegacia”.

Deise rebateu, dizendo que Monteiro que a desrespeitou. “Você persegue mulher, faça um trabalho decente e para com isso”.

O vídeo seguiu com o vereador e a coordenadora da Vigilância trocando ofensas, que pararam apenas quando ela deixou o local e foi até a delegacia de Aparecida, registrar um boletim de ocorrência.

A reportagem do Jornal Atos entrou em contato com a delegada titular, Cristiana Correa de Freitas, que falou sobre o caso. “Eu fui procurada por uma vítima, uma funcionária da Prefeitura da área da saúde e ela chegou aqui muito nervosa, alterada e chorando. Disse que estava promovendo a vacinação em uma igreja, quando o vereador André teria a ameaçado e ofendido. Diante dessa situação e havendo a possibilidade de um estado de flagrante, eu solicitei uma viatura da PM, para que pudesse conduzir até aqui e ouvisse a versão dele (vereador)”.

O parlamentar foi levado até a delegacia e segundo a delegada, respondeu todos os questionamentos. Ainda segundo Dra. Cristina, o caso foi encaminhado à Delegacia Seccional da Polícia Civil de Guaratinguetá, que investigará o caso.

Procurada, a Prefeitura de Aparecida informou, por meio de nota, que “repudia ações resultantes da desigualdade de gênero e da dominação masculina que se desdobra também para a cena pública e viola direitos políticos das mulheres, colocando uma série de barreiras e baseando-se no assédio político naturalizado na cultura política, refletindo práticas comuns que não são questionadas (trecho da nota)”.

O texto segue destacando que “qualquer ação que extrapola e violenta a Lei de Violência Psicológica e Política contra a Mulher, conceito que está claramente definido em lei, configurando a ação em crime, e a responsabilidade de tratar sobre crimes é das administrações policiais, do Poder Judiciário e do Ministério Público”.

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