Atos e Fatos

“A nova era acelerará mudanças em métodos de produção, com aumento da demanda por uma economia verde e estilos de vida sustentáveis. Temos que aproveitar a oportunidade”
Carlota Perez, economista

Presidente eleito, Lula, afirma que furar o teto de gastos é a melhor opção para reaver causas sociais (Foto: Reprodução EBC)

Professor Márcio Meirelles

A VOZ DO MERCADO

As declarações do presidente eleito causaram alvoroço no mercado financeiro. Afinal, quem é este mercado? O mercado financeiro é um conjunto de pessoas, físicas e jurídicas, que tem a sua atividade principal na aplicação financeira. São os rentistas, vivem de renda.

Estima-se por volta de 25 milhões de pessoas representadas por entidades financeiras, empresas e pessoas físicas.

Como existe o mercado financeiro existe também o mercado consumidor, muito maior.

O mercado financeiro é organizado, centralizado, e o mercado consumidor pulverizado pelas diversas regiões do país.

O motivo de tanto alvoroço é o teto de gastos, para um país com uma característica contumaz: gasta sempre mais do que arrecada!

Logo, torna-se refém do mercado financeiro para cobrir os seus gastos ou alimentar a armadilha que os governos criam: dependência do sistema financeiro.

O instrumento macroeconômico do aumento da taxa de juros para conter a inflação é o alimento da armadilha fiscal que os governos criaram.

Quanto pior para a economia, como a perda da renda, desemprego, inflação, melhor para os rentistas, com o aumento da taxa de juros.

A fala do presidente eleito quando fala em gasto público, -furar teto, ou licença para gastar-, para resgatar o social o mercado agradece.

O problema é que o mundo mudou.

O poder dominante, não percebeu ou percebeu intencionalmente, que somos subproduto da “financeirialização”.

O que vem a ser a financeirialização?

Com o desenvolvimento do capitalismo industrial ao longo dos séculos XVIII e XIX, o setor financeiro, ou o capital financeiro, foi fundamental para a consolidação das indústrias.

As grandes empresas não tinham problemas para a captação de recursos, mas as pequenas e médias tinham dificuldades para se estabelecer em um mercado competitivo.

O que se observa nos meados do século XX que o capital industrial e o capital financeiro dando origem ao capital monopolista.

Assim podemos entender como grandes instituições financeiras no nosso país investem em diversos ramos da economia e empresas industriais, de serviços, criam os seus próprios bancos e investem no mercado financeiro.

Atualmente, os grandes grupos de investimento manejam enormes recursos financeiros ao toque de dedo.

O capital flui entre os países de acordo com o interesse destes grupos de especuladores.

A financeirização leva ao processo de desindustrialização e a falta de desenvolvimento onde o dinheiro é usado para fabricar dinheiro.

Para os países emergentes a situação é bastante grave, pois há poucas condições para a implementação de parques industriais, participação na economia mundial com serviços de baixo custo, desemprego estrutural, inflação, necessidade de reformas e uma crônica dependência em relação aos países desenvolvidos e ao interesse de grupos investidores internos e externos.

Resumindo: a falta de lucratividade do setor industrial fez com que o fluxo de capitais migrasse para o setor especulativo financeiro. Bingo!

O grau de financeirização da economia contribui para a volatilidade do mercado de capitais e para a crise financeira com o consequente afastamento dos investimentos na economia produtiva, tendo como impacto o desemprego, a má distribuição de renda, além dos aspectos sociais como a insegurança alimentar, a economia informal.

Não temos muito a fazer além de seguir a receita clássica de planejamento e disciplina de gastos.

Será que a equipe de transição e o próximo governo têm noção deste fenômeno.

O presidente do Banco Central, o guardião da nossa moeda, até o presente momento, não foi consultado.

Ele está esperando ser chamado!

Não deveria ser o primeiro a ser consultado?

Como afirma, um dos membros da transição: André Lara Resende:” sem um Estado competente e responsável não há como pensar em desenvolvimento. Agora com a obrigação de ser socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável”.

Ver para crer!

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