Atos e Fatos
“Em dúvida, diga a verdade” (Mark Twain)
O MITO DA CAVERNA
O Mito da Caverna ou Alegoria da Caverna é uma metáfora criada por Platão contida em sua obra A República.
A República de Platão descreve sobre a política ateniense da Grécia Antiga e apresenta a tese relacionando o conhecimento ao poder público.
Para Platão, o conhecimento da verdade mais profundo, proporcionado apenas pelo raciocínio, é a condição fundamental para que um governante tenha uma boa gestão.
O livro é construído na forma de diálogo. O Mito da Caverna, um capítulo da obra, retrata o diálogo de Sócrates, personagem principal, e Glauco.
Sócrates constrói um exercício de imaginação para Glauco, falando para o jovem imaginar uma situação passada dentro de uma caverna em que prisioneiros foram mantidos desde o seu nascimento.
Acorrentados em uma parede só tinham a visão da parede em sua frente e nessa parede sombras formadas por uma fogueira no fosso anterior eram projetadas. As sombras projetadas na parede frontal aos prisioneiros passaram a ser a realidade no seu restrito mundo, em resumo, aquelas experiências.
Certo dia, um dos prisioneiros é libertado e começa a explorar o interior da caverna descobrindo que as sombras que ele sempre via era, na verdade, controladas por pessoas atrás da fogueira.
Fora da caverna uma realidade muito mais ampla e complexa do que ele julgava quando ainda estava preso.
A luz solar, o primeiro incômodo, suas retinas não estavam habituadas com tanta claridade e o cega momentaneamente.
Passada esta sensação de cegueira, o ex-prisioneiro percebe que a realidade e a totalidade do mundo não se parecem com nada que tinha vivido.
Um dilema toma forma em sua mente. Retornar a caverna e correr o risco de ser julgado como louco por seus companheiros ou desbravar aquele novo mundo. A realidade toma forma sem sua mente: o que julgava conhecer antes era fruto enganoso de seus sentidos limitados.
O leitor/eleitor já em condições de perceber que o nosso presidente vive o mito da caverna. Prisioneiro de sombras, apesar de toda a informação e conhecimento que tem à sua disposição.
Não só o presidente, a nossa sociedade foi acometida de uma preguiça de pensar estimulada pela facilidade que as tecnologias proporcionam.
A política, a sociedade e a vida comum, deixaram de ser interessantes para os cidadãos de nosso tempo. Neste início de século apenas vivem como se a própria vida tivesse importância maior que a preservação da sociedade.
“A ignorância, em nosso tempo, é cultivada e celebrada”
Mandatários de nações estrangeiras homenagearam os mortos pela pandemia, um gesto humanitário e sinal civilizatório. Não vi em nosso país um gesto desta natureza. A preguiça intelectual tem sido a mais forte característica de nosso tempo. A dúvida, o questionamento, a não aceitação das afirmações sem antes analisá-las são hoje desprezadas.
As “Fake News”, palavra inglesa, abrandam a consequência de uma palavra maligna do nosso vocabulário: a mentira, a maledicência. As pessoas não se prestam ao cuidado de verificar a veracidade e a confiabilidade da fonte geradora da informação. As redes sociais viraram verdadeiras vitrines do ego, que divulgam a falsa propaganda de si, sequer sabendo o peso que sua existência traz o mundo.
A ignorância, em nosso tempo, é cultivada e celebrada.
O país vive sobre o predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil, construindo uma prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância.
O mito da caverna nos coloca em um mundo limitado, preso em nossas crenças; a caverna, os nossos sentidos enganados; as sombras, as opiniões erradas, o conhecimento preconceituoso, a prevalência do senso comum como a verdade.
Sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro diante da luz que ofusca, eliminar a visão do prisioneiro, instalar a clareza do conhecimento verdadeiro.
A sociedade precisa sair da caverna!