Atos e Fatos

Professor Márcio Meirelles

“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota” – Jean Paul Sartre

Manifestantes fazem protesto para lembrar 120 dias do assassinato de Marielle Franco (Foto: Reprodução)

A SOMBRA DA VIOLÊNCIA NA POLÍTICA: DO BRASIL AO MUNDO
A violência, como fantasma cruel, assombra a política desde os primórdios da civilização.
O Brasil não é exceção. Do assassinato de João Pessoa em 1930, que marcou o início da Era Vargas, ao suicídio de Getúlio em 1954, passando pelo atentado contra Jair Bolsonaro em 2018, a nação carrega cicatrizes de episódios brutais que abalaram a democracia.
O assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, na Confeitaria Glória em Recife, foi um evento crucial na história brasileira, servindo como estopim para a Revolução de 1930 e o fim da República Velha.
O principal antagonista de João Pessoa era João Dantas, um advogado e político local que nutria um profundo ressentimento pelo crescente poder e influência de Pessoa. Essa rivalidade se intensificou quando Dantas perdeu as eleições para governador da Paraíba para Pessoa em 1927, alimentando ainda mais a animosidade entre ambos.
Acredita-se também que Dantas tenha agido motivado por ciúmes, pois Pessoa teria mantido um caso extraconjugal com a esposa de Dantas, a poetisa Anayde Beiriz. A publicação de cartas íntimas entre os dois, supostamente orquestrada por Pessoa, teria sido a gota d’água para Dantas.
O crime foi resultado de uma complexa teia de fatores interligados, como rivalidades pessoais, ciúmes, disputa pelo poder e a crise da República Velha, que culminaram em um evento trágico que mudou os rumos da história brasileira.
O assassinato praticado pelo senador Arnon de Melo em 21 de setembro de 1963no plenário do Senado Federal, também foi um crime com motivações políticas, onde o suplente senador Kairala foi atingido erroneamente, pois o alvo era o desafeto senador Silvestre Péricles.
Foi absolvido por legitima defesa (?)
Não estamos sozinhos! No Japão, o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe foi morto a tiros em 2022, enquanto nos Estados Unidos, Abraham Lincoln e John F. Kennedy sofreram o mesmo destino trágico, em 1865 e 1963, respectivamente.
Na semana que passou Donald Trump, ex-presidente americano, por milésimos de centímetros não perdeu a vida.
Será que a política está se tornando mais violenta?
A resposta é perturbadora e exige análise profunda.
Fatores como polarização ideológica, disseminação de ódio nas redes sociais e crescente desconfiança nas instituições contribuem para um clima de hostilidade.
No país, por exemplo, as eleições de 2018 e 2022 foram marcadas por discursos acalorados e ataques mútuos entre candidatos, gerando um ambiente de extrema tensão. Esse clima se intensifica nas redes sociais, onde o anonimato e a facilidade de propagar informações falsas alimentam a proliferação de ódio e violência verbal.
É importante lembrar que a violência política não se limita a atos físicos. Ameaças, ofensas, calúnias e difamação também são formas de violência que visam silenciar e intimidar oponentes políticos, especialmente mulheres e minorias.
Diante desse cenário preocupante, surge a pergunta: as ideologias estão sendo substituídas pela raiva?
A resposta, novamente, não é simples.
É verdade que a polarização ideológica contribui para o clima de hostilidade, mas é fundamental considerar outros fatores, como a erosão da confiança nas instituições, a desigualdade social e a falta de diálogo construtivo entre diferentes grupos da sociedade.
Combater a violência na política exige um esforço conjunto de diversos setores da sociedade.
Governos devem garantir a segurança de políticos e eleitores, combatendo a desinformação e o discurso de ódio online.
A mídia precisa ter responsabilidade com o conteúdo que veicula, evitando sensacionalismo e dando espaço para o debate plural.
A sociedade civil deve se mobilizar para promover o diálogo e a cultura da paz.
É fundamental que as ideologias sirvam como ferramentas para construir pontes, não muros.
O debate político deve ser baseado em argumentos racionais e na busca de soluções para os problemas da sociedade, não na propagação de ódio e violência.
Somente com um compromisso conjunto com a democracia, o respeito mútuo e a busca por soluções pacíficas poderemos superar a sombra da violência que paira sobre a política.
Qualquer forma de violência é uma derrota!

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