Redução em repasses acende alerta para nova direção da Santa Casa de Lorena

Com desfalque de verbas estaduais e federais, nova provedora projeta dificuldades para hospital; particular é aposta para sanar dependência

Entre os agora conselheiros, Jorge Malerba e Paulo Sergio Reis, a nova provedora Paola de Gara Geronimi e seu vice, Luiz Geraldo Rangel em dia de homenagem ao doutor Waldyr Fleury (ao centro); gestora assume com o desafio de aliar receita a atendimento (Foto: Arquivo Atos)
Entre os agora conselheiros, Jorge Malerba e Paulo Sergio Reis, a nova provedora Paola de Gara Geronimi e seu vice, Luiz Geraldo Rangel em dia de homenagem ao doutor Waldyr Fleury (ao centro); gestora assume com o desafio de aliar receita a atendimento (Foto: Arquivo Atos)

Francisco Assis
Lorena

A Santa Casa de Lorena deu início a um novo período com a troca da mesa diretora, eleita no último dia 15. O hospital está agora sob direção da empresária Paola de Gara Geronimi, que terá a tarefa de buscar recursos em meio à crise que promete reduzir drasticamente o investimento federal e estadual para atendimento na saúde.

Paola fez parte da mesa diretora nos últimos dez anos. Ela substitui o empresário Paulo Sérgio dos Reis, que comandou o trabalho de reestruturação da entidade, após assumir o cargo em meio à séria crise financeira.

Nos últimos anos, a Santa Casa passou por uma série de trabalhos de ampliação e reestruturação física, com a construção de leitos para o atendimento SUS e particular.

De acordo com a nova provedora, o hospital conta hoje com espaço adequado para o atendimento, e a preocupação deve focar o investimento para manter o dia a dia, com pagamento de funcionários e fornecedores, que deveria ser custeado por repasses.

Com a baixa no investimento dos governos estadual e federal, a preocupação aumenta. A redução e atrasos em repasses vêm dificultando o trabalho no hospital. Em 2014, a entidade voltou a sofrer pressão por parte do Sindicato dos Funcionários de Saúde, após atrasos em salários.

Para evitar novos atrasos, a Santa Casa aposta no investimento do atendimento particular. “Precisamos de uma rotatividade maior, termos uma eficiência maior para melhores números do convênio particular, pois é isso que vai sustentar o SUS. A situação sobre os repasses deve piorar no segundo semestre, então o segredo para ser sustentável é fazer essa sinergia entre particular e SUS”, destacou Paola.

Ela projeta redução ainda maior de investimento federal no segundo semestre, com a defasagem na tabela SUS. A tabela, que serve de referência para pagamento de estabelecimentos prestadores de serviço na rede pública, não deve ter reajuste, segundo anúncio do Ministério da Saúde, o que aumenta a diferença entre o repasse e os gastos de hospitais e laboratórios.

Sobre o Estado, a entidade trabalha com atrasos em convênios como o Pró-Santa Casa, onde mantém atendimento de municípios vizinhos. “Estamos recebendo muitos pacientes de outras cidades, mesmo quando não há repasses para isso. Cidades em que não somos referência e ainda o aumento da demanda devido aos problemas em outras santas casas, que nos prejudica”.

Com o “Pró-Santa Casa”, o hospital de Lorena é referência para o atendimento em Piquete, Canas e Cachoeira. A última cidade chegou a fechar o atendimento de sua unidade, devido a problemas estruturais, o que vem aumentando a procura em Lorena e Cruzeiro.

A expectativa da mesa diretora é garantir aporte financeiro com o atendimento particular, que ocupa 30% do serviço no hospital, para sanar gastos com o SUS, responsável por outros 70%. “Nossa missão é continuar atendendo SUS, porque somos o único hospital da cidade a fazer esse trabalho. Estes 30% que sustentam hoje nosso trabalho com o SUS, terá de ser ampliado, pois sabemos que a tabela SUS está defasada e todas as ações do Estado e da Federação serão mais enxutas”, lembrou a provedora.

Já em Lorena, Paola e o vice provedor, Luiz Geraldo Rangel, que também segue na mesa após fazer parte da última administração, garantiram que o convênio com a Prefeitura deve seguir, e que não há atrasos (o contrato está em processo de renovação). Além do atendimento SUS, a Santa Casa é hoje administradora do Pronto Socorro, após acordo com a administração municipal, que não conseguia estabilidade no PS, que chegou a ser gerido por três empresas.

“Estamos alinhados, seguiremos com o Pronto Socorro, pois a Prefeitura reconhece o que vem sendo feito. A idéia é seguir com esse trabalho, até porque a cidade também sofre com a falta de repasses”, frisou Rangel.

Dívidas – Mesmo em melhores condições estruturais que unidades de cidades vizinhas, o hospital tenta reduzir a dívida, contraída nos últimos anos. Sem revelar valores, o vice-provedor destacou que o trabalho será facilitado pela organização dos dados, realizada pela última gestão. “Antigamente, não sabíamos nem mesmo o quanto se estava devendo. Hoje, a dívida está equacionada e podemos trabalhar em cima disso para poder saná-la”, garantiu Rangel.

Hospital quer apoio, mas rechaça interferência partidária

Francisco Assis
Lorena

O anúncio da redução no repasse da Saúde por parte dos municípios afundou ainda mais as santas casas da região na crise financeira que há anos afeta o atendimento. Em busca de verbas, as entidades têm intensificado a busca por apoio parlamentar.

Em Lorena, o contato político foi eficaz na reestruturação do hospital. Além das dívidas, a Santa Casa era foco de reclamações devido à estrutura deficitária, mas após receber investimento estadual e federal, a entidade realizou obras de ampliação de leitos, compra de equipamentos, construção de alas para exames, maternidade e o Pronto Atendimento particular.

A ligação de membros da antiga gestão com o PSDB (Jorge Malerba, que fez parte da mesa, é membro do diretório tucano na cidade) será rechaçada na nova gestão, para evitar intervenção política. É o que garantiu a nova provedora da Santa Casa, Paola Geronimi.

Ela ressaltou que o apoio de deputados é importante, mas que não há alinhamento partidário. “Existia membro do partido, mas nunca tivemos e não vamos deixar ter interferência política nas ações da mesa. Tanto é que recebemos visitas, apoio de deputados de vários partidos. Hoje não temos conotações e estamos em busca de ajuda de quem quiser ajudar, independente de partido, precisamos de recursos”.

A busca de recursos, além de garantir base para os gastos diários, deve arcar com novas obras, como a ampliação da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), que deve ter o número de leitos duplicados. “Temos um planejamento para que, na necessidade de ampliação no número de leitos, já possuirmos a estrutura pronta. O problema hoje não é material e estrutura física, mas sim o dinheiro para manter o dia a dia, de custeio dos serviços”, contou o vice-provedor, Luiz Geraldo Rangel.

Centro de Imagens – Outra necessidade futura no hospital é a definição de um sistema para o Centro de Exames de Imagens, após a notícia de que o Instituto Santa Rosa, que realiza serviços como Raio X, Ultrassonografia, Mamografia e Tomografia computadorizada deve deixar o complexo da Santa Casa. “O instituto saindo, temos um projeto para o Centro de Imagens, para dar seguimento a esse serviço. O Santa Rosa se desligou por questões internas, mas vamos dar continuidade. Ainda não sabemos como, se uma nova parceria ou de outra forma, pois temos várias opções”, destacou Paola.

Um comentário em “Redução em repasses acende alerta para nova direção da Santa Casa de Lorena

  • 26 de dezembro de 2016 em 17:57
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    Cursei Letras neolatinas na FATEA(turma de 1958), onde fui aluna de Irmã Olga de Sá e pensionista.
    Lendo Retratos do Vale – LORENA -, que acabo de receber, deparei com a notícia de que Paola DE Gara Geronimi é a nova provedora dessa respeitável Instituição.(Surpreendeu-me e alegrou-me também a foto da homenagem ao dr. Waldyr Fleury, amigo daqueles tempos.)
    Assim, pois, agradeceria imensamente se Vossas Senhorias me informassem como eu poderia contatar a senhora empresária, Paola De Gara Geronimi. CORDIALMENTE, Maria Shirley Vieira

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