Com dívida superior a R$ 70 milhões, Hospital Frei Galvão troca diretores
Gilberto Nering deixa direção, e Instituto Axis assume assessoria para revitalizar gestão; mudança pode acarretar em aumento no atendimento do sistema público
Leandro Oliveira
Guaratinguetá
Ligado à Igreja Católica, o Axis presta assessoria em gestão e revitalização do setor administrativo, e chega ao hospital após o Congresso de Instituições Católicas, realizado no Rio de Janeiro, solicitar presença mais próxima da Igreja nas administrações de unidades hospitalares.
O hospital enfrenta sérios problemas financeiros, há anos. As auditorias tiveram início na última quinta-feira, com o intuito de dar um norte aos diretores do Instituto. No mesmo dia foi realizada uma coletiva de imprensa com Ariston Oliveira, diretor, e Afrânio Emílio Carvalho, diretor geral da nova gestora. Em uma primeira análise de contratos e documentos, foi constatada uma dívida ainda maior do que foi relatada por Nering, em reunião na Câmara de Guaratinguetá, há dois anos (o ex-diretor havia revelado um pendência de R$ 40 milhões). “Hoje, o hospital tem em torno de R$ 70 milhões em dívidas. A maior parte desse volume é com instituições financeiras, que já está parcelado”, explicou Carvalho.
Os diretores iniciaram negociações com as instituições credoras, mas só será possível ter uma ideia de como os débitos serão quitados após as auditorias. Questionado sobre a origem e data das dívidas, o diretor salientou que não é possível informar, pois as análises estão em andamento.
As negociações entre as Irmãs da Providência, que administram o Hospital Frei Galvão, e o Instituto Axis tiveram início há dois meses. Em julho, foi realizado o Congresso Brasileiro de Instituições Católicas, no Rio de Janeiro. O encontro teve como objetivo aproximar as instituições religiosas ligadas à saúde das administrações de hospitais. Através do pronunciamento do cardeal Peter Turkson, discutiu-se as gestões e saúde pública.
O Axis prestará apoio à direção do hospital. “Ouvi em uma rádio que o Instituto fará a administração. Não. São as Irmãs, com a gente assessorando. Elas circulam no hospital todos os dias, mas querem estar mais próximas do cotidiano administrativo”, explicou Ariston Oliveira.
Os diretores asseguraram que as questões assistenciais e todos os serviços prestados atualmente serão mantidos. Com a dívida de R$ 70 milhões, será necessário colocar em prática uma política de equilíbrio financeiro. Cortes no quadro funcional foram descartados.
As auditorias devem durar sessenta dias. A parceria entre Hospital e Instituto tem duração de dois a três anos. Contratos com empresas prestadoras de serviço serão avaliados e, caso haja necessidade, serão rompidos. Questionado sobre a última administração do Frei Galvão, encabeçada por Gilberto Nering, o diretor garantiu que “não existe nenhum tipo de desconfiança (sobre contratos e atuações) por parte do senhor Gilberto”.
O ex-diretor geral do hospital foi procurado para responder sobre a troca na administração da unidade. Gilberto Nering afirmou que não se sente à vontade para atender a imprensa no momento. “Nunca fui muito de dar entrevistas, porém esse momento é delicado, pois estive por 21 anos à frente do Frei Galvão e não quero interferir nas decisões que foram tomadas. Só espero que tenham muito sucesso”.
Atendimento público – No Congresso em que as religiosas participaram, foi pedido que os hospitais voltem os olhos para filantropia. “O cardeal fala para estarmos mais presentes, pois às vezes o hospital se volta para a área financeira e esquece o carisma. A missão inicial do hospital é com os pobres”, salientou Ariston.
Atualmente, o Hospital Frei Galvão atende 17 municípios. O Instituto revelou que deve buscar parcerias junto ao município, Estado e União, para fortalecer a filantropia.