Taxa facultativa de turismo divide opinião de romeiros

Projeto de lei ainda não entrou em vigor; Legislativo de Aparecida pretende votar proposta ainda este ano

Rua central de Aparecida, que conta com hotéis e pousadas; cidade debate criação da taxa do turismo (Foto: Juliana Aguilera)
Rua central de Aparecida, que conta com hotéis e pousadas; cidade debate criação da taxa do turismo (Foto: Juliana Aguilera)

Juliana Aguilera
Aparecida

A criação do voucher do turismo, uma taxa para o turista que visita e se hospeda em hotéis de Aparecida, em 2017 foi recebida com críticas e gerou polêmica no setor.

Na busca de consenso pela aprovação, o projeto sofreu alterações, como a cláusula que tornou a tarifa facultativa. Mas a nova mudança divide opiniões de turistas e hoteleiros, que temem perder hóspedes.

Segundo o diretor-geral legislativo da Câmara de Aparecida, José Geraldo de Souza, a votação do projeto, que era prevista para 2017, foi adiada para 2018, pois não houve parecer das comissões. Souza afirmou que ainda não há previsão de votação, pois a Câmara está em recesso, mas que já teve aceite de diversos proprietários de hotéis da cidade.

Entre os turistas, a nova taxa é aceita por alguns, mas rejeitada por outros. A analista contábil Jéssica Carvalho visita Aparecida nas festividades de Natal há vinte anos e acredita que o turista sofrerá com o novo imposto. “A maioria que visita Aparecida são pessoas bem simples, que juntam o ano inteiro para vir visitar a Santa”, lembrou Jéssica, que não gostaria de pagar a taxa. “Aparecida é uma cidade turística só depois de ser uma cidade da fé do povo. Então o turista vem por causa da fé e isso seria imoral e cruel”, criticou.

A analista disse ainda que viu uma queda no movimento da cidade em 2017, quando passava por lugares que antes eram muito movimentados, como a feira de ambulantes.

Ela acredita que se o turista tiver que pagar pela taxa, tentará cortar outros tipos de gastos. “Por exemplo, ele vai pagar a taxa para o hotel. Se ele pagasse pra ir em alguma outra coisa ou à feira, comprar lembranças, já não vai mais”.

Ponto positivo – Turistas citaram o atendimento que recebem em lojas e a sinalização das ruas como pontos positivos na cidade. A aposentada Tina Ribeiro já viajou diversas vezes de Belford Roxo-RJ a Aparecida e, no início de janeiro, esteve novamente na cidade com a família. “Minha irmã e sobrinha, que vieram de Santarém, no Pará, acharam o atendimento melhor do que do Rio de Janeiro”, comentou.

A aposentada concorda com a taxa, mas gostaria que mostrassem onde o investimento é feito. Ela afirmou que gostaria de ver melhorias em serviços como a locomoção.

Outro pedido feito por turistas foi da melhoria em espaços públicos para ônibus. Edson do Espírito Santo trabalha com fretados de Curitiba-PR e região metropolitana para Aparecida há nove anos. “No meu caso, queria que liberassem o Pátio da Basílica pra gente dar embarque e já sair. Também um estacionamento que a gente pudesse dar embarque para o pessoal, ou até na frente do hotel. Queria que os guardas de trânsito ficassem organizando e tivessem um pouco de paciência”, listou.

Edson contou que enfrenta uma relação difícil com os guardas da cidade. “Eles vêm a gente como um vilão. O pessoal que vai lá, a primeira coisa que querem fazer é jogar multa, dizem ‘não, não pode ficar aqui, tem que sair’. Mas a gente tem que dar embarque pro pessoal, tem gente idosa (sic)”.
Ele afirmou que não vê problema na taxa de R$ 3 diária para a manutenção do setor e acredita que o romeiro também não sofrerá com ela, pois o valor não é muito alto.

Quem não concorda muito com a taxa são os hoteleiros da cidade, que não quiseram se identificar, por medo de represália. Eles afirmaram à reportagem do Atos que a taxa pode diminuir o número de turistas. Além disso, acreditam que o turista vai sempre optar por não pagar a tarifa, caso o projeto seja aprovado com a cláusula adicionada.

Procurada pela reportagem, a secretaria de Turismo de Aparecida preferiu não responder sobre como o valor arrecadado com o voucher será investido ou o modo que pretendem divulgar sobre a nova taxa para turista e hoteleiros.

Colocado em votação no final de 2017, a Câmara recebeu grande participação popular na sessão que discutiu o projeto. O documento havia sido encaminhado em maio, mas acabou retirado de pauta.

Em entrevista ao Jornal Atos no início de janeiro, o secretário de Administração de Aparecida, Domingos Léo Monteiro, defendeu a criação da taxa. “É uma proposta viável e legal. Sob o ponto de vista jurídico, o entendimento da Prefeitura é que pode ser aplicada. Até com as discussões que fizemos com as classes envolvidas, fizemos debates e ajustes no documento. Quanto ao reenvio, não posso dizer, será uma decisão apenas do prefeito”, concluiu.

Aparecida recebe, em média, 12 milhões de visitantes por ano. Em 2017 o número de turistas que visitaram a cidade ultrapassou a marca de 13 milhões. No ano passado o município recebeu um monumento de 50 metros de altura, que deve ser o principal ponto de visitação turística fora do Santuário Nacional. A projeção é de que neste ano a marca se mantenha acima dos 13 milhões de turistas.

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