“A mudança só vem com atitudes diferentes”

Meio ambiente e renovação política são base para propostas de engenheira ambiental pré-candidata ao Congresso em 2018

A engenheira ambiental, Juliana Cardoso durante participação no programa Atos no Rádio (Foto: Rafaela Lourenço)
A engenheira ambiental, Juliana Cardoso durante participação no programa Atos no Rádio (Foto: Rafaela Lourenço)

Da Redação
Região

Entre as palavras de ordem que devem tomar conta das campanhas eleitorais neste ano, a renovação política é promessa constante, principalmente entre jovens pré-candidatos. Propostas que ganham força desde 2013, quando as manifestações junho levaram milhões de jovens às ruas de todo País para cobrar o fim da corrupção. Exatos cinco anos depois, as demandas seguem as mesmas, com denúncias e o apelo por projetos de investimento público responsável.É com essa tarefa que novos nomes do cenário entram na corrida eleitoral. Entre eles, a engenheira ambiental Juliana Cardoso (PR), 28 anos, que voltou à região nesta semana quando debateu projetos de política ambiental, financiamento eleitoral e planos para qualificar a administração pública. Mestre em Administração Pública pela Universidade de Columbia; e mestranda em Direito Público pela Escola de Direito da FGV, ela é líder da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), cofundadora do Movimento de Renovação Política Brasil 21; membro do Movimento Agora!, foi delegada na Assembleia da Juventude na ONU (Organizações das Nações Unidas), delegada na Assembleia de Jovens pela Sustentabilidade das Americas e secretária Adjunta de Meio Ambiente e Recursos Naturais de Poá-SP.

Com participação em coletivos como o “Agora!”, o “Renova BR” e o “Brasil 21”, onde empenha ações para a renovação política, Juliana, que é pré-candidata à deputada federal, se reuniu com outros nomes da nova geração, como o vice-prefeito de Guaratinguetá, Regis Yasumura (PSB), que ganha espaço entre os nomes que devem buscar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Em Lorena, a jovem engenheira passou pelos estúdios do Jornal Atos onde falou sobre os projetos que pretende implantar durante entrevista no programa Atos no Rádio.

Jornal Atos – A eleição está cada vez mais próxima. Como você está se preparando para a campanha?Juliana Cardoso – Chegando a eleição já dá aquele friozinho na nossa barriga e só dobra a nossa responsabilidade. Os novos candidatos, os da renovação, alcançam espaços (na mídia) para expor e apresentar suas propostas e ideais,, mesmo que em tempo tão reduzido de campanhas eleitorais. Frequento o Vale há muitos anos, minha família tem uma empresa que cuida da gestão ambiental das cidades, e eu, como engenheira ambiental, frequento muito e sempre estive perto das pessoas. Diferente de outras eleições, no primeiro ano as pessoas estavam muito descontentes com o Mensalão em 2010, aí 2014 veio Petrolão, aí veio a Lava Jato e aí vieram várias discussões do Passe Livre, e as pessoas foram para as ruas. Então tivemos primeiro um processo de descrença, o segundo de afastamento e agora as pessoas estão querendo tanto a renovação que inclusive há movimentos que impulsionam novas candidaturas. O que eu tenho sentido na rua e tenho certeza que o Regis (Yasumura) também, é que as pessoas têm recebido isso muito bem. As ruas têm sido muito generosas neste sentido, mas isso dobra a nossa responsabilidade, porque estamos lidando com o sentimento mais nobre dessas pessoas, a esperança.

Atos – Você participa de três grupos: Movimento Agora, Instituto Brasil 21 e o Renova BR. Como que esses grupos trabalham com figuras como vocês, jovens que têm essa busca e promessa de renovação?

Juliana – Faço parte de redes diferentes e começo por uma que não foi citada, mas que talvez tenha sido a minha entrada nesse meio de discutir políticas públicas, foi a Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), onde me tornei líder em 2016. É um espaço que surgiu pra gente discutir políticas públicas e os problemas do Brasil de uma forma apartidária focando em problema, solução e como implementar isso. É uma rede que tem três senadores, dois governadores, uma rede extensa de prefeitos do Brasil inteiro, vereadores, pessoas para discutir os problemas e soluções. E esses oásis de discutir efetividade e entrega é muito raro. Essa foi a primeira oportunidade que tive de entender melhor as dificuldades que a gente tem no sistema político.

Atos – Esse é um trabalho que vai além das siglas partidárias. Mas como vocês pretendem alcançar isso em meio a um sistema estabelecido com caciques e grandes partidos ainda fortes?

Juliana – O Brasil perdeu um pouco dessa identificação ideológica dos partidos. Isso faz com que o brasileiro vote em pessoas e não em ideologias. Até porque a gente tem 35 partidos diferentes no Brasil e fica difícil falar porque cada um tem uma ideologia forte. Então esses espaços sim trazem essa discussão, tira o passional, e a gente discute as políticas públicas e isso é muito interessante dentro da Raps, o que a gente chama de amizade cívica, onde a gente consegue compor com diferentes ideologias e candidaturas as possibilidades de mudança. Temos também pessoas da sociedade civil, de entidades privadas, sociais, para discutirmos os problemas do Brasil e diversos projetos de escuta para validação destas agendas. Isso aí vai gerar uma carta mandato que nós, futuros parlamentares, vamos seguir.

Campanha conta com desafios para atender demanda das ruas (Foto: Rafaela Lourenço)
Campanha conta com desafios para atender demanda das ruas (Foto: Rafaela Lourenço)

Atos – Mas você faz parte também de outros grupos políticos. Como eles funcionam?

Juliana – Também faço parte do Renova BR, processo seletivo aberto que teve quase cinco mil inscritos no Brasil inteiro. Hoje somos 132 pessoas no Brasil inteiro que são postulantes, futuros candidatos a deputado estadual, federal e distrital e acho que temos dois candidatos ao Senado. O Renova BR surgiu para impulsionar candidaturas, mas principalmente para preparar. Hoje, infelizmente, a gente não tem candidatos ou parlamentares que se preparam antes de exercer essa função. Com tantas iniciativas bacanas que vemos no País, a gente viu que poucas delas ensinavam e ajudavam a estruturar esse processo eleitoral, porque nós, candidatos novos, já saímos em desvantagem com relação a quem está hoje no poder. Então temos aulas que nos preparam muito, desde teoria geral do Estado, direito constitucional, funcionamento do Legislativo e até como a gente engaja as pessoas pelas redes sociais, para que, de alguma forma, a gente não só tenha instrumentos ferramentais para estruturar uma candidatura, mas que a gente chegue definitivamente preparado para exercer uma posição parlamentar.

Atos – Você está diretamente ligada à demandas ambientais. A região parece estar aquém daquilo que é necessário nesse cenário (leia texto ao lado sobre o selo Município VerdeAzul).

Juliana – Falo muito sobre a Logística Reversa. Temos uma lei no nosso País chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos, que fala tanta coisa importante como que o cara que fabrica uma garrafinha de água e tem a responsabilidade de tirar ela do meio ambiente. Isso ajuda todas as pessoas em relação à reciclagem, que tirem esse resíduo do rio. Sobre esse selo, é uma política que eu defendo muito, é uma mostra de muito sucesso da gestão pública que poderia ser aplicado em todos os estados brasileiros.

É uma agenda ambiental prevista pelo Governo do Estado de São Paulo, e que a gente divide em dez diretivas diferentes, como o município que dá destinação correta para os resíduos sólidos, para a reciclagem, enfim, uma agenda muito robusta de gestão ambiental que ela norteia os gestores públicos a destinar a sua política de gestão ambiental municipal. É difícil implementar, precisa de muita vontade política e apoio técnico. Eu tive a experiência em Poá, que era a 12ª cidade do Alto Tietê, e chegamos ao segunda lugar de gestão ambiental municipal, um avanço muito grande em um ano e meio de trabalho. Mas infelizmente a questão ambiental acaba não sendo prioridade de muitos municípios, e é justificável, afinal temos tantos problemas de segurança, saúde, educação, só que também temos que parar para pensar que se a gente não preservar o hoje, o amanhã já não vai ter mais.

Atos – Voltando à campanha eleitoral, você trabalha com o financiamento coletivo. Isso tem funcionado?

Juliana – Isso vem de mais uma das pérolas que temos na legislação brasileira. Nos disseram que tínhamos que reduzir o tempo de campanha, que antes era de 90 dias e agora é de 45 dias, e aí mudou a forma de financiamento de campanha. Não pode mais receber dinheiro privado, e passou a receber dinheiro público, ou seja, tem o fundo eleitoral com mais de bilhões de reais que cada um de nós paga para que seja feita a campanha eleitoral. Então tirou do ente privado e passou para o ente público. Isso pesa. A democracia tem um custo. Isso é um fato, é difícil, e a gente que está disputando com deputados eleitos que estão lá há quatro anos fazendo os seus nomes e seus trabalhos. E como mudou a regra, é importante a gente chamar as pessoas para participar, porque a democracia é a coisa mais valiosa que nós brasileiros temos. Dentro desse processo começamos com o financiamento coletivo de campanha, com o objetivo de chamar as pessoas para participar desse processo democrático, e o Brasil ainda não tem essa cultura, é tudo muito novo. Estamos concorrendo com pessoas que despejam milhões de reais, e se estamos vindo com uma proposta diferente, é para exatamente fazer um trabalho diferente. Tem candidato que oferece R$10, uma cesta básica pelo voto, e a gente não vai fazer isso porque estamos fazendo uma política de boas ideias, propostas e grupo. Então estamos concorrendo com o cara que dá, e como a gente reverte essa história? Chamando as pessoas para a participação, que seja com R$ 10, com R$ 15, com R$ 20… esse financiamento tem um limite de R$ 1.064 por doação por dia, então a pessoa não pode doar mais do que isso, mas podem sim agregar. A gente acredita que há políticos do bem, tanto que estamos colocando o nosso dinheiro junto com o grupo. A mudança só vem com atitudes diferentes. A política não é ruim, é um meio de transformação, o ruim são as escolhas que as pessoas fazem.

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