Produtor leiteiro abre mercado internacional com projeto que une educação e qualidade

Programa alavanca produção rural de Cachoeira com a qualificação de funcionários e parceria com dinamarqueses

Fazenda São Benta (126)
Visitantes dinamarqueses acompanham trabalho com gado leiteiro em fazenda de Cachoeira (Foto: Francisco Assis)

Da Redação
Cachoeira Paulista

Em tempos de crise, o melhor é retrair seus projetos, certo? Não para empreendedores como Sergio Ely de Andrade Costa. Proprietário da fazenda São Bento, em Cachoeira Paulista, e fundador da Agropecuária Milk, Education and Quality, MEQ (Leite, Educação e Qualidade), ele colocou em prática um sistema que investe na formação de jovens trabalhadores agrícolas, ganhando relevância no país e abrindo espaço no mercado internacional.

O trabalho vem ganhando reconhecimento. Nesta semana, o processo de produção dirigido pelo engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), recebeu o certificado de bem-estar animal. Foi a primeira fazenda do Brasil a receber o reconhecimento, devido à filosofia de focar na qualidade do leite produzido e no trabalho com animais.

Nada mal para o trabalho iniciado há cinco anos, após Sérgio Ely receber a tarefa de comandar a fazenda, fundada há três décadas pelos pais Danilo e Dulce. O projeto vem sendo ampliado, com a aquisição de duas propriedades, próximas a cidade de Castro, no Paraná.

“Não pegamos essa terra do nada, já existiam muitas instalações, com um sistema de operações. Então tivemos que priorizar alguns pontos e mudar até chegarmos onde estamos hoje. Isso vai até o plano final da fazenda, que é de 3,5 mil litros daqui a dois anos”, contou João Luiz Pratti, veterinário também formado na UFLA.

A projeção para chegar ao patamar de produção, destacado pelo veterinário, é de apenas um dos focos na MEQ. Na São Bento, a idéia é produzir o leite com o uso de tecnologia de ponta, trabalhando a qualificação dos funcionários por meio de cursos, geridos na própria fazenda, que mantém uma equipe de base formada por pessoas que fizeram e que ainda fazem o curso e que participam de parcerias com institutos e projetos, como o programa Travel to farm, um colégio agrícola da Dinamarca, com 130 anos de trabalho. O acordo definiu um sistema de intercâmbios de estagiários de colégios agropecuários dinamarqueses, o Techmilk, um projeto de formação de gerentes, em que os melhores alunos poderão fazer o último estágio na Dinamarca.

Nesta semana, três agropecuaristas do país europeu, diretores do programa, conheceram o trabalho na MEQ de perto. Eles acompanharam o processo de produção na fazenda São Bento e também o sistema educacional colocado à disposição dos funcionários e também de estudantes de outras regiões do Brasil. “A educação pode fazer a grande diferença. Na Dinamarca, desde o fazendeiro simples, todos têm uma formação mínima, passaram por um forte processo educacional. Esse é um ponto que faz a diferença. Educação e informação trazem desenvolvimento, não só de tecnologia, mas também do sistema de trabalho”, contou Niels Erik Jespersen, um dos representantes do grupo dinamarquês.

O projeto educacional conta com outras parcerias como os convênios com dois institutos federais, de Santa Catarina e do Triângulo Mineiro e com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR) e a Fundação ROGE em Delfim Moreira (MG).

Com o instituto mineiro, a MEQ abriu um sistema, iniciado em 2011, que viabiliza aulas práticas do curso de técnico em Agropecuária, ministradas na Fazenda São Bento.

Outra parceria vem auxiliando no projeto educacional e também na ampliação do alcance da empresa. Com o apoio do SEBRAE, a MEQ aderiu ao sistema de clube de compras e já atinge outros setores. “Com o SEBRAE, trabalhamos o sistema, que já funciona. Com a verticalização da produção, somos convidados a dar palestras e isso nos abre portas, como aconteceu agora, com o convite a trabalharmos com manteiga”, contou o proprietário da Milk Education Quality.

Para Sergio, o objetivo é transformar o projeto em referência na educação agrícola. “Queremos ser referência, não só pela qualidade do leite, mas também porque, focando nas pessoas, vamos atingir a qualidade na produção e melhorar a vida das pessoas”, frisou o agrônomo, que revelou que o programa deve colocar em prática “dias de campo”, trazendo outras pessoas, fazendeiros e estudantes para conhecer a fazenda e o MEQ. “Quem tem o conhecimento tem que dividi-lo”.

Mercado – Ao receber o certificado de bem-estar animal, a MEQ acentuou a posição de destaque no cenário nacional. O terceiro representante da Travel to farm, Jens Munk Kruse comparou a dinâmica de trabalho com a Dinamarca, onde as cooperativas trabalham para ampliar a força do produtor na negociação dos produtos. “A ideia é que o fazendeiro não pense de forma isolada, que ele entenda que juntos, somos melhores. Entenda que essa competição entre eles pode ser prejudicial e que é importante se unir e trazer essa competição ao nível de indústria. Um novo processo, em outro patamar, onde estarão mais fortes”.

Sobre o futuro, Sergio, que mantém contrato de produção com uma grande empresa de produtos derivados do leite, acredita que é importante projetar a longo prazo, mantendo o equilíbrio, apenas da oscilação corriqueira da economia nacional. “Nosso projeto é a longo prazo, queremos saber onde estaremos em 2020. Independente se o governo e a política não estão indo bem, não podemos desviar nosso percurso. A crise é cíclica, o que pode acontecer é que, ao invés de andarmos a cem por hora, as vezes teremos que reduzir um pouco para sessenta, oitenta. Nosso futuro é ter as três unidades produzindo, com parcerias sólidas, nos tornar referência e seguir com essa forma de trabalhar”.

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