Mães de autistas enfrentam dificuldades para obter diagnósticos e tratamento na rede pública

Lorena e Cachoeira Paulista estão entre os municípios que enfrentam a falta de neuropediatra, psicólogos e outros especialistas para atendimento

Ação de conscientização do autismo; pessoas com TEA têm dificuldades para conseguirem atendimento RMVale (Foto: Universo do Autismo)

Andréa Moroni
RMVale

A dificuldade na busca pela assistência para crianças com TEA (Transtorno do Expectro Autista) tem levado famílias da região a protestar. Entre os principais obstáculos estão a falta de planejamento e estrutura para o atendimento na rede pública, mesmo após o crescimento do espaço para discussão sobre o transtorno.

Pais de crianças com TEA enfrentam alguns desafios. O primeiro deles é fechar o laudo para confirmação da condição. Depois do diagnóstico, a busca pelo tratamento correto também se torna desafiadora quando se depende da rede pública. A rotina escolar pela falta de mediadores também preocupa os responsáveis.

Em Lorena, famílias enfrentam dificuldades pela falta de neuropsiquiatra, com RQE (Registro de Qualificação de Especialista), documento que intitula o especialista no tema. “Infelizmente, a Prefeitura contratou um profissional que não tem RQE. E muitas vezes não fecha o diagnóstico. Espera que outros terapeutas o façam”, destacou a presidente da Associação Universo do Autismo, Grazzy Santos.

É a dificuldade enfrentada pela Priscila Andrade, mãe do Brenno Davy, sete anos, moradora da Vila Hepacaré, em Lorena. “Em 2021, quando o Brenno tinha quatro anos, eu fui chamada na escola e falaram que ele era autista. Foi pedido o encaminhamento para neuropediatra, mas até hoje ele só passou no psicólogo. Ele não tem laudo e, por isso, não tem mediadora na escola”.

Outra mãe que enfrenta dificuldades é a Ana Júlia, que busca apoio para os cuidados com Caio, de três anos.  “Iniciamos o processo de identificação em abril. Estamos fechando relatórios, além de exames laboratoriais. Só está sendo possível fazer esses exames na rede privada devido a ajuda financeira de nossos familiares, enquanto estamos na fila de espera para atendimento no SUS”.

Crianças com TEA em ação de conscientização em Lorena; mães comentam obstáculos para tratamento dos filhos (Foto: Universo do Autismo)

O relato de que a falta do diagnóstico de TEA tem ampliado os obstáculos para que as famílias possam conseguir mediadoras nas escolas da rede pública é reforçado por outras mães, como Sueli Santos, mãe da Sophia, de sete anos, moradora do Santo Antônio.

Ela contou à reportagem do Jornal Atos que sua filha, que está no primeiro ano, preciso de um acompanhamento, mas a diretora se negou a colocar a mediadora devido à falta de laudo. “Eu ainda não consegui levar minha filha ao neuropediatra porque não tenho condições de pagar particular e na rede pública não tem”.

O secretário de Saúde de Lorena, Adaílton José Pinto, explicou que a pasta não trabalha com pacientes de TEA. “Nós temos uma parceria com a Apae para esse atendimento, com neuropediatra, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. O problema é que nossa parceria prevê apenas setenta atendimentos”.

O número de crianças aguardando laudo, segundo a Prefeitura, é de 110. Adailton informou que a Apae contratou recentemente um segundo neuropediatra para ampliar o atendimento e agilizar o fechamento de laudos. “Vamos fazer dois ciclos de dez atendimentos para tentar reduzir a demanda por laudos. Nossa intenção é aumentar o número de crianças atendidas para 110”.

Cachoeira Paulista – A dificuldade no município é a falta de profissionais para acompanhamento das crianças diagnosticas com TEA. moradora do Embauzinho, Ana Paula é mãe do Daniel, três anos, e publicou um vídeo nas redes sociais reclamando da falta de profissionais para atender seu filho autista. “A Prefeitura precisa colocar uma equipe multiciplinar para atender essas crianças, num local mais apropriado porque o ambulatório da Santa Casa não é. Agora meu filho está sem atendimento de psicóloga”.

A secretária de Saúde de Cachoeira Paulista, Rosiane Araújo Ferreira, explicou que a falta de psicólogos é devido à exoneração dos profissionais por terem passado em outros concursos. “No caso de fonoaudiologia, temos duas profissionais, que alegam não ter especialização para atender TEA. Com isso, temos somente a fono do ambulatório para atender as crianças”.

Sobre um local mais apropriado para atendimento, a secretária informou que não tem reclamações sobre o ambulatório da Santa Casa. “Mas, já foi disponibilizado um local para implantação da AMA, com a possibilidade do atendimento nesse local”.

Rosiane informou ainda que a Prefeitura está realizando um processo seletivo em caráter de urgência para contratar os profissionais. “Já fizemos todo o processo, mas fomos questionados pelo Ministério Público, que está avaliando o processo. Estamos aguardando a resposta do MP para divulgar o resultado”.

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