Polêmica sobre alunos barrados tem protesto de diretores e demissão de funcionária de ONG

Crianças de escolas municipais de Guaratinguetá são impedidas de entrar em shopping de luxo em São Paulo para conferir a Exposição Mickey 90 anos; Orientavida destaca repúdio à rejeição de visitantes

Estudantes da zona rural, barrados em entrada de shopping; polêmica com repercussão nacional (Foto: Arquivo Pessoal/ Jozeli Gonçalves)
Estudantes da zona rural, barrados em entrada de shopping; polêmica com repercussão nacional (Foto: Arquivo Pessoal/ Jozeli Gonçalves)

Juliana Aguilera
Guaratinguetá

No último dia 18, crianças de quatro escolas municipais de Guaratinguetá foram impedidas de entrar no Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, onde era realizada a “Exposição Mickey 90 anos”. Diretoras, coordenador, professores e 130 alunos só foram liberados após entrar em contato com a ONG Orientavida, responsável pelo evento. O caso ganhou repercussão nacional.

O horário de visita da exposição variava de escola para escola, com intervalo de trinta minutos, mas a intenção da direção era permanecer com os alunos no shopping, se alimentarem e curtirem o espaço verde do local, mas ao chegarem, as dificuldades começaram. De acordo com diretores, o grupo desembarcou fora do estacionamento, na avenida Presidente Juscelino Kubitschek.

A diretora da Escola Municipal Francisca Almeida Caloi, Jozeli Gonçalves, afirmou que uma funcionária da exposição alegou que o shopping não comportaria o número de alunos e que deveriam voltar apenas no horário indicado para entrar na exposição.

Após acionar a ONG Orientavida, eles conseguiram a liberação. “Nós observamos que algumas justificativas que tinham dado ‘caíram por terra’. Falaram que não tinha área verde, e tinha sim, um lugar bem grande, bonito. Os meus alunos conseguiram comer no Burguer King e havia sim lugar na praça de alimentação”, explicou.

Jozeli explicou que algumas pessoas questionaram se as escolas haviam avisado o shopping que fariam a visita. “Não faz sentido perguntar para um shopping se posso levar pessoas para lá. O próprio Iguatemi nos respondeu lamentando o ocorrido e afirmando que não era necessário avisar, porque eles não fazem essa interferência”, reforçou.

Acostumada a fazer excursões para São Paulo com seus alunos, Jozeli afirmou que nunca passou por discriminação racial e econômica. “Esta escola já foi à Sala São Paulo assistir a Orquestra Sinfônica. Nós estamos acostumados, nossos alunos são organizados, educados e pontuais”.

Os alunos da escola Antônio da Cruz Payão foi a única que não conseguiu entrar no shopping. O coordenador Adriano Prado levou as crianças para o Parque do Povo, do outro lado da avenida. “Eu fiquei com medo de deixar as crianças na calçada, é perigoso. Não era uma calçada larga, a avenida estava ali do lado, e tinha pedestres, aquela movimentação toda de São Paulo”, explicou.

A turma de alunos de sete a dez anos comeu o lanche cedido pela Prefeitura de Guaratinguetá no parque e retornou ao shopping somente no horário da exposição. Os alunos entraram pelo elevador de serviço e foram direcionados para o estacionamento após o evento, sem poderem voltar ao shopping para usar os banheiros.

Apesar dos alunos não terem percebido os atos discriminatórios, os pais, ao saberem do ocorrido, procuraram as escolas no dia seguinte.. Em nota, a secretaria da Educação de Guaratinguetá manifestou seu apoio às diretoras, professores e alunos.

Tanto ONG quanto assessoria do shopping também se manifestaram sobre o acontecimento, lamentando a ação da funcionária. A Orientavida, responsável pela contratação da colaboradora que discriminou o grupo, emitiu uma nota destacando: “a Organização Social Orientavida esclarece que o ocorrido na última segunda-feira foi um fato isolado e pontual. A entidade reforça ainda que todos são bem-vindos na exposição e reitera que, a partir do momento que teve conhecimento do caso, tomou as medidas necessárias para que tal situação não mais ocorra. Até hoje foram recebidas gratuitamente mais de duas mil crianças de escolas públicas e comunidades carentes do estado de São Paulo, e este foi o único incidente”.

A nota enfatizou ainda que a ONG se dedica há vinte anos a projetos de inclusão com o objetivo de ajudar as dificuldades sociais, e não compactua com qualquer ato de discriminação. “A Orientavida reforça que todos são bem-vindos na mostra que ocorre num shopping na cidade de São Paulo, e reitera que a partir do momento que teve conhecimento do caso, tomou as medidas necessárias para que tal situação não mais ocorra, e que a funcionária não faz mais parte do quadro”.

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