Santa Casa acumula dívidas e mantém rotina de déficits mensais

 

Atrasos do Estado e da Prefeitura prejudicam atendimento; irregularidades em prestação de contas também barra verbas

Pacientes aguardam por atendimento pelos corredores do hospital; Santa Casa de Cruzeiro acumula dívidas (Foto: Francisco Assis)
Pacientes aguardam por atendimento pelos corredores do hospital; Santa Casa de Cruzeiro acumula dívidas (Foto: Francisco Assis)

Francisco Assis

Cruzeiro

Fechar o mês no vermelho virou rotina para a direção da Santa Casa de Cruzeiro. A entidade luta para superar a crise, mas o acúmulo de dívidas em repasses municipais e estaduais prejudica o atendimento de pacientes da cidade e da região.

O hospital de Cruzeiro não é exceção à regra quando o assunto é dificuldades econômicas entre as Santas Casas na RMVP (Região Metropolitana do Vale do Paraíba). A entidade passou por várias trocas de comando, a última em outubro de 2014, quando, após ameaçar fechar o atendimento, passou às mãos de José Ponciano, que assumiu com dívida de R$ 14 milhões.

Além de atrasos em repasses, como o Pró Santa Casa, que custeia o atendimento de referência aos municípios vizinhos do Vale Histórico, a Santa Casa vem encontrando dificuldades com o repasse municipal, no pagamento do atendimento do Pronto Socorro.

De acordo com Ponciano, o valor, em torno de R$ 700 mil mensais, que a Prefeitura encaminha ao hospital, mantém rotina de atrasos, o que acarreta em problemas com o pagamento de profissionais. “Esse valor é repassado para o pagamento dos médicos, por isso estamos com dificuldades, já que a Prefeitura paga, mas sempre com um atraso”, explicou.

O prefeito Rafic Simão (PMDB) garantiu que, apesar do mau momento econômico, o município prioriza o trabalho com a saúde, que inclui o contrato com a Santa Casa. “Quando assumimos, eram quase três meses em atraso neste repasse. Logo nos primeiros meses, repassamos quase R$ 2 milhões. Com todos esses problemas na cidade, acontecem alguns dias de atraso, mas não há hoje acúmulo de meses atrasados. Em abril, tivemos um atraso e estamos zerando ele. A dificuldade é porque caiu a arrecadação”.

Sobre outros investimentos, o prefeito destacou que a Prefeitura está impedida de encaminhar devido a irregularidades da gestão anterior. Em setembro, a Santa Casa de Cruzeiro foi alvo de apontamentos do TCE (Tribunal de Contas do Estado). “Eles (Santa Casa) precisam fazer a contrapartida, que é a prestação de conta. As gestões anteriores não estavam fazendo essa prestação, e isso bloqueia verbas estaduais, federais e municipais. Ou seja, somos proibidos de encaminhar as verbas pelo Tribunal de Contas”, explicou Rafic. “Um dos motivos da intervenção foi esse, tentar abrir aquela bendita caixa preta e saber o porquê não prestavam conta. Isso traz resquícios até hoje”.

Além do município, a entidade espera reorganizar a situação junto aos investimentos estaduais e federais. Referência para a região do Vale Histórico, a Santa Casa de Cruzeiro enfrenta atrasos também no Pró Santa Casa, convênio com o governo do Estado, que custeia parte do atendimento a pacientes de outros municípios (parte dos gastos são repassados pelas cidades atendidas).

Enquanto tenta colocar as documentações e respostas em ordem, a direção busca saídas homeopáticas, com empréstimos bancários. Com aporte junto à Caixa Econômica Federal em R$ 2 milhões, o hospital voltou a suprir medicamentos e pagar os médicos.

Mas o empréstimo não conseguiu colocar fim ao problema. O provedor disse que mesmo com o pagamento de parte da dívida, a situação tende a piorar. “Os R$ 2 milhões já foram, porque só de fornecedores devíamos mais de R$ 4 milhões. Administramos esse dinheiro, pagamos um pouquinho aqui, um pouquinho ali, para manter o atendimento, o fornecimento dos remédios e não ter um quadro mais alongado desta melhora no atendimento”, numerou Ponciano. “Esse mês já estamos com dificuldades de pagar os funcionários. Estou em negociação com a Caixa, em outra linha, em que eles pegam todas as dívidas bancárias, dependendo do valor, isso daria para pagar empréstimos com fornecedores e alongar esse pagamento por dez anos, com carência de seis meses. Isso seria fantástico”.

 

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