RIO: CIDADE MARAVILHOSA?

O mundo político, na semana passada, surpreendido pela prisão de dois ex-governadores do estado do Rio de Janeiro.

Um por formação de quadrilha e o outro por compra de votos em seu reduto eleitoral.

O espetáculo da prisão e a humilhação que dois chefes políticos de um estado brasileiro passaram do limite do ridículo e do possível.

O fato relevante deste episódio é explicável por várias razões, entretanto, uma recorrente história política deste ente federativo que não conseguiu estruturar um patrimônio político pelas diversas transformações que passou desde a proclamação da República.

A cidade do Rio de Janeiro, após a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil (1808), em 1834, se transforma em Município Neutro da Corte, entretanto, permanecendo como a capital do Império.

Com a proclamação da República, em 1889, a cidade se transformou em capital do Brasil, o município neutro se transformou em Distrito Federal e a província do Rio de Janeiro se tornou um estado.

A governança da cidade sempre esteve ligada aos movimentos políticos da história do país e dos regimes que nos governaram, enfim, território geográfico do centro do poder nacional.

A tradição política gira em torno da dominância de um poder central o que dificultou a formação de líderes naturais, organizadores do estado, que abrigou uma Corte e berço do movimento republicano.

Uma hipótese a ser comprovada.

Todavia, o grande hiato político que o Rio de Janeiro sofreu foi à transferência da capital do Brasil para o planalto central.

A opinião de sociólogos, sobre esta transferência, a formação de um vácuo político e social na cidade do Rio de Janeiro, onde perto de um milhão e duzentas mil pessoas, entre funcionários públicos e familiares, na época, classe média alta, deixou a cidade do Rio de Janeiro em direção à Brasília.

Continuam os sociólogos, em nenhuma parte do mundo, houve esta ruptura brutal do estrato de uma sociedade que criou um vácuo de poder e um vazio social sem uma política mitigadora, compensatória, com outros investimentos econômicos para suprir a perda da renda do local.

A cidade do Rio de Janeiro teve o seu espaço ocupado pelos contraventores do jogo do bicho que hoje comparados ao narcotráfico anjos folclóricos cheios de graça.

Do lado político, o exercício do voto foi negado aos cariocas que após a era Vargas, na segunda República (1945-1964), a cidade foi governada por interventores.

Durante o período de 1946 a 1958 os governadores, então do Estado da Guanabara, desmembrada do estado do Rio de Janeiro, a única cidade-estado que o país conheceu, teve seus governantes eleitos, como Amaral Peixoto (ligado a Vargas), o embaixador Macedo Soares, Miguel Couto e um grande governador que teve a sua carreira política encerrada em um acidente aéreo em 1959: Roberto Silveira.

Neste período destacar a figura do grande político fluminense, natural de Vassouras, Carlos Lacerda, jornalista, proprietário do jornal Tribunal da Imprensa e responsável pela queda de Getúlio Vargas.

Lacerda remodelou a cidade do Rio de Janeiro, construiu o aterro do Flamengo, idealizou as vias de acesso ao Rio: a linha Vermelha, Amarela, removeu favelas, a vila Kennedy com recursos dos Estados Unidos, construiu o conjunto habitacional Cidade de Deus.

Cassado pela revolução por não concordar com a permanência do regime militar, após Castelo Branco.

Após a fusão do Estado da Guanabara (1975-1979) dois governadores: Floriano Peixoto Faria Lima, nomeado, e Chagas Freitas, eleito indiretamente, proprietário do jornal “O Dia”, um matutino sensacionalista especializado na crônica policial.

Na nova república, restabelecidas as eleições, o ex-exilado político Leonel Brizola assume o governo com as mesmas características de um caudilho dos pampas que inebriou os cariocas.

A sucessão traz o político ligado à família Amaral Peixoto, ligado à família Vargas, Moreira Franco, e faz um governo discreto propiciando a volta de Leonel Brizola.

Outro governador discreto, Marcelo Alencar, e o aparecimento do Garotinho, um líder religioso, que não termina o seu mandato e assume Benedita da Silva, líder das comunidades faveladas.

A dinastia Garotinho perpetuada em sua mulher Rosinha Garotinho substituída por Sergio Cabral, em dois mandatos.
Cabral elege o seu sucessor o governador Pezão.

Esta retrospectiva histórica indica que os cariocas e fluminenses não tiveram, ao longo de sua histórica política, a possibilidade de criar líderes autênticos, infelizmente, vítimas de oportunistas com um discurso de Maracanã numa tarde Fla-Flu.

A conclusão induz que os chefes de Estado, no Rio de Janeiro, nunca conseguiram governar para o povo, pois este vínculo político nunca foi estabelecido pela sociedade carioca.

O Rio de Janeiro precisa de um novo Cabral, o descobridor dos sete mares da política fluminense!

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