Atos e Fatos

“A crença forte só prova a sua força, não a verdade daquilo em que se crê.”

Nietzche

Lula e Bolsonaro; Professor Márcio Meirelles comenta cobre a crença da população do Brasil se tornar um “país comunista” (Foto: Reprodução)

Professor Márcio Meirelles

O BRASIL DAS CRENÇAS!

Na semana passada, uma pesquisa de opinião informa que 44% da população brasileira acredita que o país corre o risco de se transformar em um “país comunista”.

Em parte, trata-se do resultado da lavagem cerebral das fake news patrocinadas pela extrema direita notadamente na última eleição.

Deste total 31% concordam com a afirmação de que o comunismo está batendo à nossa porta e 13% acreditam, em parte, que se trata de uma alucinação do povo.

Com certeza, este contingente é o mesmo que acredita que a terra é plana, que a vacina contra a Covid transforma as pessoas em jacaré, muda de sexo e o negócio é tomar cloroquina.

Esta ideia do comunismo no país é a mesma que ocorreu em 1964, na era Jango, um estanceiro, latifundiário, que queria fazer a reforma agrária.

Temos há muitos anos um programa de distribuição de terra. Somos comunistas?

No governo do Marechal Castelo Branco foi feita a reforma agrária, mais liberalizante a que os camponeses reclamavam.

Não tínhamos fake news, mas influenciadores competentes na imprensa, na televisão e nas organizações de direita que Jango iria instalar o comunismo no país.

A invocação da família, da tradição e da propriedade, levou o povo as ruas, de terço na mão, e Jango para o Uruguay onde foi tomar conta de sua fazenda no estrangeiro.

A crença venceu e Jango foi cassado pelo presidente da Câmara, Auro de Moura Andrade, na época, um dos maiores latifundiários e criador de boi do país.

Como derrubar esta crença do comunismo se o regime foi extinto há 33 anos, com a queda do Muro de Berlim.

A sociedade brasileira atual não tem capacidade de definir o que é o comunismo.

A ideia do comunismo, não existe mais no mundo, com exceção de alguns países em fase de adaptação ao capitalismo, mas é usado por políticos oportunistas e por uma parte de militares para assustar os paisanos  e garantir seus privilégios.

As “vivandeiras” classificadas pelo Marechal Castelo Branco, prontas a solicitar o apoio do exército para desestabilizar politicamente o país.

Esta crença atinge cidadãos de todas as classes sociais, faixas etárias, regiões do país e não está relacionado apenas com a falta de educação ou cultura política, pois muita gente acredita que Lula é um perigoso comunista a serviço de Moscou, onde o comunismo não existe mais.

As pessoas associam o comunismo na América Latina com o regime político da Venezuela e Cuba, regimes autoritários, com as duras realidades da fome e do desabastecimento.

O comunismo idealizado por Marx e Engels no século XIX baseado em uma análise econômica sobre o capitalismo e a sua força voraz, quando não havia uma regulamentação sobre os usos dos meios de produção, as garantias de condições dignas de vida e trabalho.

O interessante a registrar, as reivindicações dos comunistas nas relações de trabalho foram logo adaptadas ao capitalismo como: o horário de trabalho, o trabalho da mulher e do menor e a distribuição do lucro das empresas aos trabalhadores.

A experiência do comunismo no século XX é fundamentalmente diferente do ideal comunista defendido por Marx e Engels.

No capitalismo liberal de Adam Smith o mesmo fato ocorreu onde o imperialismo econômico financiou ditaduras, monarquias, derrubou presidentes e instalou governos autoritários.

Se fosse possível o encontro destes dois pensadores, com certeza, afirmaria, se estivessem no comando de suas ideias, o capitalismo poderia ter sido menos agressivo e o comunismo menos destruidor.

O comunismo é mais um modelo ideológico, político, do que propriamente econômico.

O interessante é que as pessoas não fazem ideia do que seja o comunismo, reptem palavras de ordem oriundas da extrema direita para manter as pessoas sempre alertas as ameaças e coesas na causa de combate ao comunismo.

Como uma “ameaça” constante é uma forma de gerar medo e manter a sociedade alerta o resultado é o esperado.

Manter a narrativa.

Outra crença imperdoável, às pessoas que não pensam com a cabeça da direita, são comunistas, consequência destas crenças que penetram nas pessoas como um estigma.

A sociedade precisa urgentemente estudar história, principalmente a nossa, para criticar com mais embasamento.

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