De volta à Prefeitura, Rafic promete facilitar transição, e busca caminho para Santa Casa

Decisão que afastou Ana Karin era aguardada há sete meses; discurso destaca corte de gastos

Rafic Simão “assumiu sem assumir” Prefeitura a um mês do fim de mandato; crise impera na cidade (Foto: Maria Fernanda Rezende)
Rafic Simão “assumiu sem assumir” Prefeitura a um mês do fim de mandato; crise impera na cidade (Foto: Maria Fernanda Rezende)

Maria Fernanda Rezende
Francisco Assis
Cruzeiro

Uma decisão do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) voltou a colocar a política de Cruzeiro de pernas para o ar. O Tribunal acatou recurso impetrado em abril pelo vice-prefeito Rafic Simão (PMDB), e retirou Ana Karin (PRB) da Prefeitura. Simão ainda aguarda a notificação oficial, mas já concedeu entrevista coletiva no Gabinete nesta quinta-feira, a pouco mais de um mês para o fim do mandato.

A medida foi publicada pelo TRE na última quarta-feira. Desde então, a prefeita não foi encontrada. Procurada pela reportagem por várias vezes, a assessoria não retornou à redação.

Ana Karin chegou a ser retirada da chefia do Executivo por três vezes. Na última, entre julho de 2014 e outubro de 2015, voltou com a missão de recuperar a cidade de crise que mastigou os cofres públicos por anos.

Depois de um ano e um mês, ela volta a ser retirada do cargo, em meio à denúncias e protestos na cidade contra medidas administrativas e atrasos nos pagamentos de servidores e comissionados. Na saúde, calcanhar de Aquiles cruzeirense, a Santa Casa teve um ano marcado por uma série de paralisações, greves e manifestações.

A decisão desta quarta-feira, segundo Rafic, ratifica uma erro que mantinha Ana Karin na Prefeitura, já que, de acordo com despacho publicado, ela teria conseguido em outubro de 2015 reverter apenas um dos dois processos que respondia, referente à falta de respostas a requerimentos do Legislativo.

Em outro, Ana Karin é acusada por contratação irregular de uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para gestão de serviços na saúde entre 2011 e 2013. “Foram duas ações. Bastava a Câmara retornar comigo, mas entendeu que, pela decisão do primeiro processo, ela poderia ficar no cargo. Foi um erro jurídico. Tive que entrar com apelação mostrando que ela ainda respondia pela Oscip”, explicou Rafic.

Com a aceitação do recurso, o peemedebista volta à Prefeitura para um curto prazo à frente de uma das cidades mais conturbadas nos últimos anos. “Era para ter acontecido há um ano, mas não foi assim, interrompendo todo nosso projeto. Já não esperava mais voltar e nem gostaria de voltar, porque com menos de trinta dias úteis para o governo não poderei fazer muita coisa”, lamentou.

Desde a tarde de quinta-feira, Rafic aguarda a autorização da Câmara para que possa tomar posse oficialmente. Segundo ele, não há necessidade de esperar a publicação no Diário Oficial para que seja atravessada uma petição no processo.

Em entrevista coletiva realizada no Gabinete, ele afirmou que se até a próxima segunda-feira a posse não for autorizada, deve renunciar ao cargo. “Ninguém quer pegar Cruzeiro agora, em pleno fim de ano. Se o presidente da Câmara (Diego Miranda, PSDB) estiver mesmo com muita vontade de ser prefeito, ele vai continuar com essa má vontade de resolver esse problema”.

O peemedebista se queixou da presença da equipe de Ana Karin na Prefeitura, e denunciou que há documentos saindo da Prefeitura e pagamentos sendo feitos indevidamente. A desconfiança do político é de que a ex-prefeita esteja sendo informada dos problemas para que ele assuma a chefia da cidade, e esteja mantendo a equipe no local para dificultar o processo.

Sem nenhum posicionamento, todos os trabalhos que dependem de assinatura do governante municipal estão parados. Até mesmo a troca das senhas bancárias da administração municipal é dificultada, o que poderá atrasar mais uma vez pagamento dos servidores.

Rafic afirmou que não há como tomar nenhuma medida por enquanto. “Eu não vou fazer papel de palhaço aqui, ficar numa Prefeitura, querendo ajudar a população, querendo fazer uma transição com o futuro prefeito, e tendo que esperar a boa vontade da Câmara”.

Ana Karin, que fora da cidade, não comentou afastamento do cargo Foto: Arquivo Atos)
Ana Karin, que fora da cidade, não comentou afastamento do cargo Foto: Arquivo Atos)

O ex-vice de Ana Karin volta com a promessa de sérias medidas nos poucos dias antes do fim do mandato. O discurso é de facilitação da transição para o governo do prefeito eleito Thales Gabriel (SD). “Temos que ter responsabilidade para tomar medidas para que haja uma transição rápida e transparente, sem prejudicar a próxima gestão. A prefeita estava dificultando a transição, não estava tomando medidas de gestão necessárias para isso e para solucionar a situação na cidade”, salientou.

Entre as medidas pré-anunciadas de Rafic, o corte de cem cargos comissionados, a demissão dos temporários e enxugamento da máquina administrativa. “Vamos fazer tudo que puder para cumprir o mínimo dos compromissos, já que a folha está atrasada, há quatro meses que o repasse do Pronto Socorro está atrasado e os consignados descontados da folha de pagamentos dos servidores não estão sendo repassados para os bancos, o que faz com que os funcionário fiquem negativados. Então temos que fazer tudo para minimizar essa situação e ajudar o próximo prefeito”.

Os cargos irregulares de contratações feitas sem concurso público ou sem autorização da Câmara também devem ser exonerados. Todos processos de licitações e compras serão suspensos e permanecerão apenas as compras de remédio para a saúde pública.

Santa Casa – Depois de revelar à reportagem do Jornal Atos a intenção de acabar com a intervenção na Santa Casa, o peemedebista voltou atrás e disse que proposta agora é buscar condições de impedir novas paralisações no hospital, foco das críticas à administração municipal em Cruzeiro.

“Esse corte dos cargos e demissões de temporários serão medidas necessárias para fazer sobrar dinheiro para injetar na saúde. Queremos passar o final de ano com um pouco mais de recursos para não faltar médicos na Santa Casa”, prometeu Rafic, que destacou que a decisão sobre o futuro da intervenção ficará com Thales Gabriel.

Iniciada e outubro de 2015, a intervenção foi uma das últimas medidas de Rafic Simão na Prefeitura, antes do retorno de Ana Karin. Com uma série de trocas de diretores e interventores, o hospital passou por greves com atrasos nos pagamentos de funcionários, médicos e fornecedores.

Ainda na Saúde, ele deve tentar o retorno da médica Ana Ines Chaves à secretaria de Saúde. Ela é uma das indicadas para a pasta no mandato de Thales Gabriel, e ocupou o cargo entre novembro de 2015 e junho deste ano.

A ideia de Rafic é complementar a equipe com os secretários nomeados pelo prefeito eleito, como forma de adiantar o processo de transição.

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