Soliva promete “abrir Prefeitura” e reduzir gastos

Empresário eleito com 40% dos votos planeja Carnaval lucrativo, diálogo com Câmara e transparência em ações do Executivo

Marcus Soliva discursa após vitória na eleição do último dia 2; empresário promete transparência (Foto: Leandro Oliveira)
Marcus Soliva discursa após vitória na eleição do último dia 2; empresário promete transparência (Foto: Leandro Oliveira)

Da Redação
Guaratinguetá

Se o resultado da eleição para prefeito em Guaratinguetá deixou um recado ao cenário político, é de que a população cobra mudanças urgentes na administração municipal. O pedido por melhor planejamento e renovação ficou claro na vitória de Marcus Soliva (PSD), eleito com 26.422 votos (40,10% dos votos válidos). Mas para mudar a realidade na Terra de Frei Galvão, o empresário de 56 anos terá de enfrentar obstáculos grandes, como os impasses na saúde e a formação de um possível bloco de oposição. Em entrevista ao Jornal Atos, ele destacou que espera combater as barreiras políticas no Legislativo com diálogo.

A partir do dia 1º de janeiro, Soliva tem pela frente velhos problemas do morador de Guaratinguetá. O alto número de bairros irregulares, falhas em serviços como a pavimentação, busca por reforço da segurança, e principalmente o atendimento na saúde pública.

Apesar das repetidas vezes em que o atual prefeito Francisco Carlos Moreira (PSDB) disse durante a campanha que “a saúde de Guará é boa”, o atual cenário na rede pública é de interrogação e reclamações. Entre os principais problemas que colocam o prefeito tucano, quarto colocado na urnas com 11,94% dos votos válidos, em xeque, está o impasse com o contrato de prestação de serviço para o Pronto Socorro, com o hospital Frei Galvão. Somente após a eleição, a Prefeitura encaminhou o documento em vigor à Câmara, atendendo aos pedidos de vereadores da oposição (entre eles, o próprio Soliva), mas deixando em aberta a negociação para a renovação (o contrato atual se encerra no último dia de mandato de Francisco Carlos).

Nesta entrevista, o próximo prefeito de Guaratinguetá lista este e outros aspectos que serão prioridade para o começo do trabalho no Executivo, em janeiro. A expectativa do empresário/vereador/prefeito-eleito é de abrir a administração, com a promessa de transparência como remédio ao nebuloso governo de seu antecessor.

Jornal Atos – Você já conseguiu dar início ao processo de transição?
Marcus Soliva – Temos o compromisso como prefeito eleito com a população de não deixar interromper esse ciclo de administração para você começar do zero. Essa é a nossa preocupação, por isso tentamos estabelecer um canal de diálogo, de conversa.

Atos – Entre os vários impasses em Guaratinguetá, está a realização do Carnaval. Você tem alguma proposta definida pra isso?
Soliva – Vejo na minha concepção de administração pública que o Carnaval tem que ser autossustentável. Carnaval tem que ter uma estrutura de apoio, de montagem de arquibancada, camarotes, iluminação, sonorização. Isso a Oesg tem que ser soberana para decidir, contratar. À Prefeitura cabe o apoio logístico de ajudar nessa organização, mas acima de tudo, viabilizar também investidores para o Carnaval. Isso faz parte da secretaria de Turismo, de Cultura, buscar apoiadores para evitar que o poder público tenha que dispor dinheiro. Por se nós conseguimos trazer um apoiador para o Carnaval, uma grande agência promotora de eventos, isso facilita muito o trabalho das escolas de samba e economiza dinheiro público e das próprias escolas que vão ser contratadas para essa apresentação.

Atos – Essa situação pode ser implantada quando?
Soliva – Eu não vejo isso como impossível não. Já estamos até pinçando alguns interessados para antecipar isso. Quando a gente assumir, ver aquilo que já vem de infraestrutura contratada pela Prefeitura, e juntar ao que pode fazer para melhorar esse evento. Dar mais proteção, segurança, para o folião, para evitar os exageros das pessoas que vão à avenida, para que tenha aquilo como diversão e lazer e não como uma baderna, que é o que a gente menos quer. O objetivo é isso, poder buscar uma iniciativa privada e trabalhar com pessoas que pensam de forma organizada. O presidente da Oesg (Felício Murade) tem essa condição, é uma pessoa muito organizada. Tenho certeza que ele conjuga com esse mesmo projeto, com esse mesmo ideal. Fica mais fácil quando a Oesg não tem aquela visão de assistencialismo para o Carnaval e sim de um profissionalismo, que é o que eu acho que a gente tem que buscar.

Atos – O Carnaval pode ser lucrativo para Guaratinguetá em pouco tempo?
Soliva – A gente vê o Rio de Janeiro, com o Carnaval como um grande evento internacional, que traz muita arrecadação. Temos que ter essa visão em Guaratinguetá. Temos que vender o Carnaval para fora. Temos que trazer pessoas para passar o Carnaval em Guará, se hospedar nos hotéis, consumir nos restaurantes. Trazer a arrecadação para o município, mas para isso precisamos ter um projeto bem montado e bem alavancado, porque se não vira uma festa que só irá gerar ônus para o município e não vai trazer benefícios para o comércio nem para a cidade.

Atos – O morador de Guaratinguetá foi às urnas com uma interrogação. Qual será o futuro do Pronto Socorro e da saúde de Guaratinguetá?
Soliva – Olha, nós cobramos durante muito tempo o contrato entre Prefeitura e Frei Galvão para tocar o Pronto Socorro, para ter a alta complexidade que tinha lá, porque tudo o que era repassado para o hospital era via Prefeitura. O Governo do Estado repassa dinheiro para a Prefeitura e ela repassa para os hospitais conveniados, ou seja, o Frei Galvão e Santa Casa. A maior parte ficava com o Hospital Frei Galvão. Agora cobramos o novo contrato também, para que a gente tenha acesso a esse contrato, se é que ele existe.

Em entrevista no estúdio do Atos, o prefeito eleito elencou as prioridades para o novo governo de Guará (Foto: Arquivo Atos)
Em entrevista no estúdio do Atos, o prefeito eleito elencou as prioridades para o novo governo de Guará (Foto: Arquivo Atos)

Atos – Quais são os principais assuntos que o preocupam neste período antes assumir?
Soliva – Em primeiro lugar, nosso principal foco que vamos trabalhar é a saúde, apesar de que essa também é a segunda e a terceira também. É Santa Casa, Pronto Socorro, posto de saúde, a gente tem que desenvolver muita coisa na saúde, como a alta complexidade na Santa Casa, para a gente poder dar melhor atendimento para nossa comunidade. Temos que desenvolver o atendimento do Programa da Saúde da Família, com a saúde preventiva, o ônibus da saúde. A gente vai levar o consultório médico até os bairros mais distantes, onde não tem posto de saúde, para podermos fazer um atendimento mais próximo, que é a chamada busca ativa de pacientes. É preferível prevenir, preparar o cidadão para a gente diminuir os riscos de grandes enfermidades na nossa população.

Atos – Além da saúde, quais outros problemas já estão como prioridade?
Soliva – Temos outras situações. A pavimentação é algo que deve ser revisto. Temos que resolver os problemas dos bairros em situação irregular, pois são 48 comunidades que hoje clamam por melhorias e não as tem porque a Prefeitura não pode investir em bairro irregular. Temos que ir destrinchando isso, usando o programa Cidade Legal para legalizar esses bairros. Vamos ter que buscar investimento para a cidade, porque o cobertor da Prefeitura é muito curto. A gente tem uma arrecadação de R$305 milhões para 2017, que é a previsão do orçamento anual, e que deixa o nosso município praticamente sem capacidade de investimento.

Atos – Para a próxima Câmara, há grupos formados por vereadores eleitos em outras coligações. Já projeta esse trabalho com essa possível oposição?
Soliva – Eles têm quatro cidadãos que eu respeito. A Câmara tem que fazer o papel como agente fiscal do cidadão. Foi o que eu fiz ao longo desses quatro anos. Eu tenho a necessidade de contar com o apoio desses 11 vereadores, ajudando a administração pública a corrigir falhas, erros que podem acontecer. Eu quero vereador trabalhando nem contra e nem a favor da administração pública, quero os vereadores trabalhando a favor da comunidade, da população, do bem estar da sociedade. O prefeito que quer ver a cidade para a frente é aquele que estabelece diálogo. Então nós vamos somar em prol da sociedade.

Atos – Você tem uma ideia de qual a estrutura da Prefeitura que deve assumir? Terá muitas mudanças?
Soliva – Tem um planejamento que não divulgamos, mas precisamos construir uma nova Prefeitura. Um prédio físico, edificação moderna onde a gente possa estabelecer um trabalho mais organizado. Um prédio verticalizado com o máximo de secretarias que a gente possa conseguir colocar dentro dele. Um prédio sem portas fechadas, onde o cidadão possa circular pelas secretarias e ver todo mundo trabalhando, sem esconder nada. Transparência é fundamental. Mas isso deve ser um projeto elaborado para que haja uma construção através de um financiamento a longo prazo, a ser pago em 10 ou 15 anos, até para não descapitalizar a Prefeitura em outros aspectos, onde precisaremos investir mais, como a saúde, a educação. Vamos analisar a possibilidade jurídica para que a Prefeitura comece a pagar quando entrar no prédio. Isso é importante porque a gente deixa de pagar aluguel. Guaratinguetá hoje paga cerca de R$ 500 mil de aluguel por mês. É muito, e temos que diminuir esse gasto. Isso é foco de desenvolvimento que queremos implantar, uma estrutura operacional melhor, para atrair investimentos.

Atos – E qual será o caráter do novo secretariado?
Soliva – O secretariado de primeiro escalão vai ser muito técnico. A gente não está preocupado em lotear cargos para partidos em troca de negociação na Câmara, da secretaria para poder ter apoio na Câmara. Nosso objetivo é aquele grupo de trabalho que vem discutindo o que é melhor para Guaratinguetá, que tem projeto, que tem competência para poder gerir a cidade. Estamos estudando nomes que tenham capacidade para ocupar secretarias, e vamos anunciar tão logo a gente tenha esses nomes completos dos secretariados.

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